Você sabe o que é transtorno de processamento sensorial em crianças?
Agitação, seletividade alimentar e dificuldade de processar e expressar as sensações do corpo são alguns dos sinais do transtorno em crianças. Entenda!
O pequeno reclama ao vestir roupas mais ásperas, tem aversão a alguns alimentos e parece estar sempre "ligado no 220v". Comportamentos como esses podem facilmente levar os pais a pensarem que a criança é agitada, está fazendo birra ou é simplesmente é seletiva com as comidinhas. Num olhar mais atento, os responsáveis talvez até cogitem transtornos como
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)Apesar do diagnóstico complicado, a junção desses sinais no filho pode apontar para outra condição pouco conhecida: o Transtorno de Processamento Sensorial (TPS). De acordo com Gabriela Souza, fonoaudióloga do Instituto de Gerenciamento em fonoaudiologia e Deglutição (IGD), empresa parceira do Hospital Santa Catarina, a desordem é caracterizada por manifestações alteradas durante o processo do desenvolvimento infantil, que pode ou não estar associada a alguma patologia já diagnosticada.
"A criança apresenta alterações em seus aspectos sensoriais, como audição, tato, paladar, visão ou olfato, seja por falta ou excesso de estímulos e que podem causar hiper ou hipossensibilidade ou até mesmo um atraso sensorial", explica ela.
A neurologista Thais Demarco, especialista no tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), reforça que é preciso ter cuidado para não confundir o diagnóstico. "O TPS é uma dificuldade que o cérebro apresenta em processar estímulos do ambiente. Embora possa estar presente com frequência nos autistas, a condição não deve ser confundida com o autismo", alerta.
A que sinais os pais devem ficar atentos?
Já adiantamos alguns dos indícios do transtorno no pequeno, mas aqui vão outros comportamentos que podem sinalizar a condição e que merecem a atenção dos pais:
Com que idade é mais fácil identificar?
Os sinais do transtorno de processamento sensorial podem ser notados desde que o pequeno é bebê, mas as especialistas concordam que é na fase pré-escolar que a condição fica mais simples de ser identificada. " Pois neste período a criança começa falar e se expressar, e também é quando os pais começam a notar atitudes diferenciadas das comumente vistas em crianças da mesma idade", justifica a neurologista.
Mesmo cada criança tendo o seu tempo de desenvolvimento particular, a fonoaudióloga acrescenta que, a partir do primeiro ano, avanços sociais e linguísticos começam a ser feitos, e educadores e profissionais da saúde têm uma base padrão para os comportamentos esperados para cada faixa etária.
Como funciona o diagnóstico?
É geralmente no período escolar que o professor observa comportamentos alterados que impactam no processo de aprendizagem - isso se a criança não tem uma patologia ou deficiência neurológica associada em que o neuropediatra ou mesmo o pediatra já diagnostica o TPS - mas outros profissionais podem (e devem) ajudar na identificação.
"A partir daí, o pequeno é encaminhado para o pediatra ou mesmo psicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. Nestes casos, é importante que o diagnóstico seja estabelecido junto a uma equipe multidisciplinar, uma vez que a criança possua déficits em diversos domínios do seu desenvolvimento", pontua Gabriela.
Depois de uma conversa com o médico, em que podem ser aplicados questionários e testes de habilidade, o quadro é classificado em uma ou mais das três categorias: Transtorno de Modulação Sensorial, Transtorno de Discriminação Sensorial ou Transtornos Motores com Base Sensorial.
Quem pode ajudar no tratamento?
Um dos profissionais mais indicados para tratar a condição é o terapeuta ocupacional, que faz uso da abordagem de integração sensorial, através da qual ajuda a criança a organizar as sensações de seu corpo e conectá-las com o ambiente.
No entanto, cada profissional tem os seus métodos e práticas específicas para auxiliar o pequeno no processo. "N a educação, por exemplo, há a metodologia montessoriana; na psicologia, a abordagem cognitiva-comportamental; e na fonoaudiologia temos diversas estratégias terapêuticas para estimular o desenvolvimento desde a linguagem verbal e corporal até a motricidade orofacial, que é responsável pelo funcionamento dos órgãos fonoarticulatórios (como boca, lábios, língua e bochechas)", detalha Gabriela.
E no dia a dia?
Com a atuação dos profissionais da saúde e da educação, o papel dos pais consiste mais em dar suporte, validar as dificuldades do filho (e não diminui-las), além de inserir algumas atividades no dia a dia. " No decorrer do tratamento individualizado com a terapia ocupacional, a profissional identificará qual área cerebral deve ser mais estimulada e quais as maiores dificuldades da criança", diz a neurologista.
A partir disso, a terapeuta pode propor a continuidade de estímulos específicos pelos responsáveis. Como a fonoaudióloga bem resume, o principal é "proporcionar momentos de alegria que estimulem a criança a ser criança". Isso pode ocorrer por meio de atividades ao ar livre, brincadeiras na cama elástica, balanço, bambolê e outros objetos, além das que envolvem contato físico.
"As brincadeiras em ambientes estruturados também funcionam bem, como as de pintura com tinta ou lápis de cor, prática de instrumentos musicais, e modelagem com massinha ou argila, em que os pais podem fazer a massinha com farinha de trigo, por exemplo. Há ainda as atividades tradicionais para crianças um pouco maiores que proporcionam desafios motores e cognitivos, como caça ao tesouro, circuitos, quebra-cabeças, dominó, entre outras", exemplifica Gabriela.
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