Charles Michel discute o futuro da alimentação no Mesa SP
Cientista da Universidade de Oxford alertou para a urgência de mudarmos alimentação: “O futuro depende de como cozinhamos”
Para o cientista Charles Michel, do Laboratório de Pesquisa Crossmodal, do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford, o futuro do planeta e dos seres humanos está nas nossas dietas. Durante sua palestra sobre “Os novos significados da alimentação”, realizada nesta sexta-feira, 25, no Mesa Tendências do Mesa SP, evento anual de gastronomia da revista Prazeres da Mesa, o pesquisador traçou um histórico sobre a importância da comida na formação da sociedade como conhecemos e ressaltou a necessidade de transformação da nossa relação com o alimento. “O futuro depende de como cozinhamos”, disse.
Segundo o estudioso, foi no surgimento das grandes cidades, com o consequente distanciamento do homem das fazendas e de sua função primordial de agricultor, unido à industrialização desenfreada, que chegamos ao estado preocupante que nos encontramos hoje. “A industrialização da comida é a fonte da nossa desconexão com a natureza. Não é possível esse crescimento infinito para um planeta que tem recursos finitos. Precisamos ser mais inteligentes sobre isso. Não precisamos de mais comida. O planeta já produz alimento para 20 bilhões de pessoas, segundo dados da Food and Agriculture Organization (FAO), a questão é que 60% dessa produção é desperdiçada.”
E não é só sobre a má distribuição de alimentos. Charles aponta uma correlação direta entre os problemas ambientais ao sistema de produção de comida, especialmente em relação à pecuária. “Não estou pregando o veganismo, pois há beleza na criação de animais. Mas precisamos cuidar melhor deles. Comidas deliciosas que fazem mal ao planeta, não podem ser boas para você. Nos tornamos destruidores do planeta”, alerta, “a degradação do meio ambiente significa morte, e veremos mais pessoas morrendo hoje do que no Holocausto, por causa da forma que estamos comendo”.
Consumidores conscientes
E onde estaria a solução? Para Charles, está na cozinha, no ato de comer e cozinhar. “Cozinhar é um ato político, comer é um ato político; mais do que seu voto de quatro em quatro anos. Realmente é como fazemos política, é sim sobre educação alimentar”.
Entre as boas práticas, o pesquisador ressaltou a importância de comer comida de verdade, evitando ultraprocessados, respeitando as estações de produção do alimento e comprando direto da fonte, procurando produtores e investindo em seu trabalho. Além disso, ressaltou-se novamente a urgência de se evitar o desperdício e evitar o uso de plásticos. Para Charles, existe a necessidade de uma adaptação dos nossos cardápios. Uma dieta com porções menores, mas com melhores ingredientes, e que tenha uma base de vegetais.
A palestra “Os novos significados da alimentação”, ministrada pelo cientista Charles Michel, faz parte da programação do Mesa SP, um evento anual de gastronomia realizado pela revista Prazeres da Mesa, que ocorre entre os dias 24 e 27 de outubro, no Memorial da América Latina, em São Paulo.
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