Atala serve "carne de segunda" e fala em consumo sustentável
Com um tema um tanto quanto curioso e uma atitude impensável por se tratar de um dos maiores chefs do mundo, o brasileiro Alex Atala encerrou o ciclo de palestras na Semana Mesa SP, na noite desta quinta-feira, no Senac Santo Amaro, discursando a respeito da importância de consumirmos “100% da carcaça do boi” como forma de evoluirmos econômica, social e ambientalmente. Apesar de admitir que seria criticado por isso, Atala ofereceu ao público refeições feitas com “carne de segunda”, mostrando que é possível utilizar outras partes do boi para alimentação além das mais tradicionais e mais caras.
“O cozinheiro tem um papel fundamental em aproveitar a carcaça. Tem que servir bem. O mercado consumindo gera valor, criando uma mola de beneficio econômico, social e ambiental. Me desculpem os que vieram pegar receita, mas isso não adianta nada. Precisa praticar, entender. O que se busca aqui são novas maneiras de entender”, afirmou o quarto melhor chef do mundo.
Atala disse ainda que não tinha medo das críticas que viriam após a atitude tomada na nona edição da Semana Mesa SP. “Toda vez que você sai na frente você é criticado, mas não tenho medo porque o futuro do mundo está numa nova relação do homem com a comida. Se fosse fácil estava feito. O que torna uma boa ideia em uma verdade é ação humana. O que estamos fazendo é uma verdade. Perfeição é impossível, mas a aproximação dela é o meu dever”, completou o brasileiro.
Atala falou ao lado do ambientalista Roberto Esmeraldi e do pecuarista Ricardo Sechis. Apesar mostrar a qualidade da chamada “carne de segunda” ao público, o chef explicou como o boi deve ser tratado nas fazendas para que essa carne seja de qualidade.
“Quando eu aprendi a cozinhar, existia uma crença sobre carne de primeira e carne de segunda. Fui tentar entender e fui vendo o rebanho brasileiro melhorar e vi que existe boi de primeira e boi de segunda, assim como cozinheiro de primeira e cozinheiro de segunda”, afirmou, mostrando que até mesmo a qualidade da água que o rebanho beba reflete na maciez da carne.
O chef brasileiro falou da dificuldade de alimentar 7 bilhões de habitantes e disse que o homem precisa começar a solucionar os problemas sócio-ambientais.
“Desenvolver comida, criar comida, para 7 bilhões é um dos maiores problemas ambientais. Isso cria sequelas e vilões. É um instinto humano ir a caça desses vilões e nos últimos anos o vilão em sido a produção de carne. É essa nossa missão? Combater essa indústria? Ou vamos aprender, evoluir, dialogar, trazer dentro de um prato uma nova possibilidade, uma nova solução?”, completou.
Ao terminar de discursar no palco do Senac Santo Amaro, Atala serviu um prato preparado por sua equipe com: patinho cru, apenas marinado com azeite; tendão de Aquiles do boi, cozido com água, sal e cebola; coxão duro, cozido por 14h a 60 graus, marcado numa grelha de carvão; tutano, cortado em 5cm; e acém. Porém, apesar das carnes serem consideradas de segunda, a grande maioria da plateia experimentou e aprovou, aplaudindo o chef Alex Atala.