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'A gastronomia é uma ferramenta de transformação', diz diretor do Festival de Tiradentes

Rodrigo Ferraz, da plataforma Fartura, destaca a importância do festival, que chega à sua 27ª edição, como um motor de desenvolvimento local e internacional

30 ago 2024 - 18h47
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Hoje, se Minas Gerais está com a agenda gastronômica de festivais lotada, há um nome por trás disso: Rodrigo Ferraz. É ele uma das principais mentes por trás do projeto Fartura, uma iniciativa que visa promover e conectar a gastronomia brasileira com o mundo. Além de eventos de gastronomia em locais como Nova Lima e Conceição do Mato Dentro, é ele que comanda o Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes, que está em sua 27ª edição.

O evento não apenas destaca a culinária local, mas também atrai chefes de renome e entusiastas de todo o País e do exterior, reforçando a vocação gastronômica da cidade e contribuindo para o desenvolvimento econômico da região e além -- agora, com uma parceria com Portugal para levar a gastronomia mineira para além das fronteiras do estado.

É um festival que toma as ruas da cidade. Você transita entre espaços sem precisar pagar um ingresso: é tudo livre, aberto e feito para você provar as comidas da região. "A gastronomia vai muito além do prato. Ela é uma ferramenta poderosa de transformação econômica e social", resume Ferraz, em entrevista por telefone ao Paladar.

A seguir, confira trechos da conversa com Ferraz, que fala sobre o cenário do Festival de Tiradentes, como as coisas mudaram nos últimos anos e o mercado de festivais no País.

Como você avalia o Festival de Tiradentes hoje?

Nós sempre estivemos à frente das tendências. Em 1999, quando ninguém falava de festins ou jantares especiais, já estávamos realizando esses eventos. Depois, por volta de 2008 ou 2009, percebemos a necessidade de democratizar a gastronomia, abrindo o festival para as ruas e praças, muito antes de se tornarem comuns. Em seguida, trouxemos chefes estrangeiros para o evento, mas, com o tempo, mudamos o foco para o Brasil e a educação. Hoje, eu posso dizer que a gente tá muito focado em Minas Gerais, de levar essa gastronomia para fora de uma maneira mais consistente. Estamos focados em promover a gastronomia mineira internacionalmente, de forma mais estruturada, com eventos como o projeto Minas em Portugal.

Como a cidade de Tiradentes mudou desde o início do festival?

Somos considerados o primeiro festival de gastronomia do país. Então, quando você tem essa primeira iniciativa de trazer um festival de gastronomia, você começa a ajudar a fomentar a vocação gastronômica da cidade, aliando isso ao patrimônio histórico e natural da região. Hoje, temos desemprego quase zero na cidade: o festival atrai turistas, que impulsionam restaurantes, pousadas, o comércio local, e até mesmo serviços como táxis e charretes. Pode-se dizer que o festival ajudou a cidade, obviamente não sozinho, já que existem várias outras iniciativas muito boas, a desenvolver essa vocação.

Qual a importância dos festivais para cidades pequenas? Existe potencial de crescimento no Brasil?

O sucesso de um festival depende de uma combinação de fatores, como a vocação gastronômica da cidade e o apoio público e privado. A paisagem histórica e natural também são essenciais. Não adianta tentar replicar um festival como o de Tiradentes em uma cidade que não tenha essas características, como, por exemplo, Cubatão. Esses elementos fazem toda a diferença.

A comida é a protagonista do Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes
A comida é a protagonista do Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes
Foto: Fartura/Divulgação / Estadão

Vocês agora fizeram uma parceria com Portugal. Os festivais podem ser uma boa plataforma para levar a gastronomia brasileira para além do Brasil?

Países como Peru, Espanha e Japão têm alimentos símbolos facilmente reconhecíveis. No Brasil, a diversidade é tanta que é difícil associar apenas um produto ao país. São 50 ceviches, 30 tapas, continuando nessa analogia. Você tem fartura. É difícil às vezes você associar somente um produto ao Brasil. Então, esse é um primeiro dificultador. Todas as iniciativas são válidas: festivais, jantares, palestras. Mas a gente acredita que isso tem que ser melhor estruturado. Não somente se restringir a uma ação isolada. Tem que ser feito um trabalho mais perene, envolvendo festival, ações dos restaurantes, mídia, influenciadores. De uma forma mais constante, estar conquistando aquele território, que é o que a gente chama de soft power. Então, todas as ações são válidas. Mas elas vão ter uma eficácia melhor a partir do momento que elas são perenes. Que é o que a gente está querendo fazer com Portugal, que é a nossa raiz, é a mesma língua, porque tem voo direto e por aí vai.

E seria muito importante, não? Ter essa conexão de pessoas de outros países com a nossa gastronomia. Ajudar o país a ir muito além, inclusive do turismo.

A gastronomia vai muito além do prato. Ela é uma ferramenta poderosa de transformação econômica e social. Ao redor da mesa, tudo se resolve e se celebra. Por isso, defendo a gastronomia como uma força capaz de impactar positivamente uma cadeia produtiva extensa, gerando oportunidades e desenvolvimento.

Muito se fala que o mercado de festivais gastronômicos, e até culturais, chegou em um teto, um limite no Brasil. Como vê isso?

A gastronomia não tem teto. É igual música, nunca se esgota. Festivais bem feitos, que oferecem conforto e qualidade, sempre terão seu espaço, assim como o Rock in Rio e o Lollapalooza. O segredo é manter a qualidade e a relevância. Os que são bem feitos sempre vão ter o seu lugar.

Quais são suas perspectivas para os próximos anos?

Nosso foco é fortalecer Minas Gerais e levar sua gastronomia para o exterior. Queremos quebrar a barreira que nos limita a pensar apenas em termos de estados. O Brasil tem um enorme potencial gastronômico, e precisamos começar a pensar em termos de país. Isso trará visibilidade, autoestima e oportunidades de negócios. O futuro está em Minas e no exterior.

Estadão
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