Alho: o nosso protetor, não só contra vampiros
O alho é um alimento rico em compostos sulfurados, que, na boca, o seu efeito pode não ser dos mais agradáveis, mas no restante do sistema digestivo, vem mais do que bem
O alho já é utilizado como alimento há mais de seis mil anos e é mencionado no antigo testamento da Bíblia. Sempre que o tema é vampiro, lembramos do crucifixo, da água benta e do alho como amuletos de proteção. Egípcios, romanos e gregos o utilizavam para te
mperar a comida. Os gregos também utilizavam o alho para tratar parasitas, problemas intestinais, problemas respiratórios e anemia. Mas, de onde veio a ideia de que alho protege contra vampiros?
Justamente pela sua propriedade como medicamento. Antigamente acreditava-se que as doenças eram causadas pelo demônio, daí o porquê de associar o alho com magia de proteção. Com o passar do tempo, o alho passou a ser visto como um poderoso amuleto contra as forças do mal.
Por causa do seu cheiro forte, derivado da alicina, um dos seus fitoquímicos, o alho também era muito utilizado na Europa Oriental para disfarçar o mal cheiro do cadáver enquanto era velado. Muitos acreditavam que uma pessoa se tornava um vampiro quando a alma retornava ao seu corpo já falecido. Além disso, o alho ainda evitava que a alma do morto permanecesse no local onde estivesse seu corpo.
O alho é uma parte de uma planta, parte essa chamada bulbo ou bulbilho, e é um alimento rico em compostos sulfurados. Em aproximadamente um bulbilho, ou seja, um dente de alho, foi identificado também 33 compostos organossulfurados, contendo em quantidades quatro vezes maiores que na cebola, brócolis, entre outros. Dentre os compostos organossulfurados, pode-se citar a Aliina, Ajoeno, Alicina, Tiosulfato, Alil-mercaptnao, Dialil-dissulfido, S-acil-cisteína e compostos gama-glutâmicos que proporcionam seu cheiro característico e que são os responsáveis pelas suas propriedades funcionais. No mais, o alho também é rico em vários minerais que nutrem nosso organismo, como potássio, cálcio e magnésio.
Na boca, o seu efeito pode não ser dos mais agradáveis, mas no restante do sistema digestivo, vem mais do que bem.
Quais os benefícios?
- Combater vírus, fungos e bactérias
A alicina, seu composto sulfurado, proporciona ação antimicrobiana, inibindo o crescimento e proliferação de bactérias, vírus e fungos, inclusive eliminando as toxinas e bactérias patológicas que afetam a flora intestinal, sendo muito útil no tratamento de infecções por vermes.
- Prevenção de câncer
Além da ação da alicina, outros dos seus compostos sulfurados aliina e do alhoeno possuem potente ação antioxidantes que previne a formação de radicais livres e protegem as células do organismo, estimulando algumas enzimas que desintoxicam o organismo de agentes que causam o câncer de cólon.
O sulfeto de dialila é outra substância encontrada no alho que tem sido estudada, entre suas funções ele poderia prevenir o câncer de estômago, esôfago e intestino. Em um desses estudos, essa substância impediu o progresso do câncer em ratos. Em uma experiência em que foram submetidas a um produto que causa tumores no cólon, o número de cobaias que ingeriram sulfeto de dialila e apresentaram câncer foi 75% menor que o das que não tomaram. Já no esôfago o sucesso foi total. Dr.Wargivich, um dos pesquisadores desse estudo,conseguiu prevenir 100% do câncer provocado artificialmente.
- Saúde do coração
O alho ajuda a reduzir os níveis de colesterol "ruim" LDL, e de triglicerídeos no sangue, pois inibe a sua oxidação, reduzindo assim o risco de aterosclerose que pode levar ao surgimento de várias doenças cardiovasculares.
O alho demonstra atividade cardioprotetora devido a sua ação antioxidante, hipoglicemiante, hipolipemiante, antitrombótica, antiapoptótica, antihipertensiva, anti-hipertrófica, antiarrítmica e na melhora da função endotelial - configurando-se como uma alternativa possível na profilaxia e terapia das doenças cardiovasculares
Estudos demonstraram um aumento da atividade fibrinolítica plasmática em humanos (Chutani & Bordia, 1981) quando suas dietas eram suplementadas com alho. Sugere-se que o extrato de alho envelhecido também promova melhora na microcirculação e estabilize a membrana de eritrócitos, prevenindo a perda de flexibilidade, comum na exposição à peroxidação lipídica que ocorre nos processos de aterosclerose.
Além disso, o alho ajuda a regular a pressão arterial por possuir um ligeiro efeito anti-hipertensor, assim como a capacidade para melhorar a circulação do sangue, diminuindo a pressão sobre os vasos. Também evita a formação de coágulos por inibir a agregação plaquetária excessiva.
- Melhorar doenças inflamatórias
Os compostos sulfúricos do alho também têm ação anti-inflamatória, diminuindo a resposta do organismo a algumas doenças que causam inflamação crônica. Assim, o alho pode ser usado em algumas doenças inflamatórias, para diminuir a dor e regular a resposta do sistema imune.
- Evitar doenças respiratórias
O alho ajuda a estimular as funções respiratórias graças às suas propriedades expectorantes e antissépticas que facilitam a respiração. Por isso, o alho pode ser usado para tratar gripes, tosse, resfriados, ronco, asma, bronquite e outros problemas pulmonares.
- Saúde cerebral
Devido à ação antioxidante e anti-inflamatória proporcionada pela alicina e pelo enxofre, e devido ao seu teor em selênio e colina, o consumo frequente de alho ajuda a proteger as células do cérebro e a diminuir os danos causados pelos radicais livres, que estão envolvidos no surgimento de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e demência.
Por isso, o alho é um alimento com um grande potencial para melhorar a memória e promover o aprendizado, melhorando a saúde do cérebro.
- Controle de diabetes
A Aliina é considerada o composto em maior abundância no alho e que tem melhor efeito hipoglicemiante. Quando há o consumo do bulbo, ocorre a laceração do mesmo, e a aliina entra em contato com a enzima aliinase, sendo convertida posteriormente em alicina. Caso o indivíduo ingira a cápsula de alho, a aliina entrará em contato com a aliinase no intestino, derivando assim a alicina (CHAGAS et al., 2012).
Ashraf (2011) avaliou em seu estudo o potencial redutor de glicose sanguínea do alho em 60 indivíduos portadores do diabetes tipo II, divididos, respectivamente, em grupo I e grupo II. Com duração de 24 semanas, os indivíduos do grupo I receberam cápsulas de alho 300mg três vezes ao dia e o grupo II recebeu cápsulas de placebo, sendo que ambos os grupos receberam metformina 500mg duas vezes ao dia. Os níveis sanguíneos de glicemia em jejum foram verificados ao final das semanas 0, 12 e 24. Foi possível observar que o grupo I demonstrou uma diminuição significativa de glicemia em jejum, 128,3 ± 0,311mg/dl na semana 0, que foi reduzida para 126,9 ± 0,369mg/dl na semana 12 e para 124,8 ± 0,330mg/dl na semana 24, quando comparado ao grupo II.
No estudo de Johnson (2015), que utilizou como amostra ratos diabéticos induzidos por aloxano, receberam 400mg de extrato de alho por kg/dia durante seis semanas. Após o período estipulado de estudo, foi verificado que o extrato de alho diminuiu os níveis de glicose sérica, comparado ao grupo controle.
Como usar o alho
Para obter os seus benefícios, deve-se consumir um dente de alho fresco por dia. Uma dica para aumentar o seu poder benéfico é picar ou amassar o alho e deixá-lo descansando por 10 minutos antes de usar, já que isso aumenta a quantidade de alicina - a principal responsável pelas suas propriedades.
O alho pode ser usado ainda para temperar carnes, saladas, molhos e macarrão, por exemplo. Mesmo assim não consegue ingerir alho? Saiba que hoje já existe no mercado as cápsulas de óleo de alho desodorizadas, ou seja, não deixam sabor residual. Converse com seu profissional de saúde.
Como escolher o alho e fazer o seu armazenamento
No momento da compra, deve-se preferir cabeças de alho redondas, sem manchas, cheias e bem formadas, com os dentes de alho unidos e firmes, evitando os que estejam soltos, moles e murchos. Para preservar o alho por mais tempo e evitar o mofo, ele deve ser armazenado em local fresco, seco e levemente arejado.
Efeitos colaterais e contraindicações
O consumo excessivo de alho pode causar problemas digestivos, cólicas, gases, vômitos, diarreia, cabeça, problemas nos rins e tonturas.
Além disso, o consumo de alho cru como remédio natural está contraindicado para recém-nascidos, durante a cicatrização de cirurgias, em casos de pressão baixa, dor no estômago, hemorragias e uso de remédios para afinar o sangue. O alho também deve ser consumido com precaução por pessoas que possuem alterações na coagulação, já que pode favorecer a ocorrência de hemorragias.
Ainda não é recomendado por mulheres grávidas e em fase de amamentação, principalmente em grandes quantidades ou concentrado na forma de suplemento, já que o alho ainda pode ter efeito abortivo, além de poder afetar o ciclo menstrual da mulher. Alguns estudos demonstraram que o consumo por mulheres na fase amamentação pode provocar mudança no cheio do leite.
Algumas formas para utilizar o alho e obter todos seus benefícios:
- Chá de alho
O chá deve ser preparado com 1 dente de alho por cada 100 a 200 mL de água. Para isso, deve-se colocar o alho picado e amassado na água fervente e deixar repousar por 5 a 10 minutos. Depois retirar do fogo, coar e deixar esfriar.
Para melhorar o sabor do chá pode ser adicionado à mistura gengibre ralado, umas gotas de limão ou 1 colher de sobremesa de mel, por exemplo.
- Água de alho
Para preparar a água de alho, deve-se colocar um dente de alho esmagado em 100 mL de água e depois deixar repousar por toda a noite ou, pelo menos, por 8 horas. Esta água deve ser ingerida em jejum, para ajudar a limpar o intestino e reduzir o colesterol.
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