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Chocolate dá espinha? Entenda o que diz a ciência

Dermatologistas explicam a dúvida que se criou em torno do chocolate e que fica mais frequente na época de Páscoa

4 abr 2023 - 17h02
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Quem nunca ficou receoso por exagerar no consumo de chocolate pensando nas espinhas que podem surgir, que atire a primeira pedra. Esta é uma das maiores dúvidas envolvendo o alimento, que fica em voga nesta época do ano por conta da Páscoa. 

Chocolate dá espinha? Entenda o que diz a ciência-
Chocolate dá espinha? Entenda o que diz a ciência-
Foto: Shutterstock / Saúde em Dia

De um lado, muitas pessoas — e até profissionais da saúde — sacramentam que há sim uma associação entre o chocolate e a acne; de outro, estão aqueles que enfatizam que não existe relação. Afinal, o chocolate causa ou não causa espinha?

Chocolate e acne: entenda essa relação

"Se alguém perguntar se o ovo de páscoa favorece ou não o aparecimento de acne, a resposta mais correta e cuidadosa seria: depende. A lista de ingredientes do produto, a predisposição individual, o contexto alimentar, tudo isso influencia demais", elucida a Dra. Cintia Guedes, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Segundo ela, é claro que, se um adolescente com maior predisposição à acne comer um ovo de chocolate ao leite e recheado com creme de avelã inteiro, muito provavelmente verá o surgimento de espinhas ou o agravamento do quadro acneico. "No entanto, se o chocolate for amargo, essa probabilidade diminui consideravelmente", acrescenta. 

Mas não é apenas o tipo de chocolate que interfere na acne. O contexto alimentar também importa, pois alimentos com índice glicêmico mais alto podem piorar a acne, aponta a médica. Uma revisão de diversos estudos científicos publicada no International Journal of Dermatology mostrou que relação da dieta com os fatores promotores da acne incluem alimentos com alto índice ou carga glicêmica, como aqueles ricos em açúcar e gordura. Já os fatores protetores das espinhas incluem ácidos graxos, ingestão de frutas e vegetais. 

"O papel desempenhado por componentes dietéticos específicos pertencentes a diferentes alimentos, como leite, produtos lácteos ou chocolate, permanece uma questão não resolvida e objetivo de pesquisas futuras", concluiu o estudo.

O cacau, na verdade, é um amigo da pele

Então, de acordo com a dermatologista, para responder adequadamente à pergunta sobre a relação do chocolate com a acne, é necessário observar atentamente a lista de ingredientes do produto.

"O cacau em si é um alimento extremamente benéfico e que não está relacionado ao surgimento ou piora da acne, pelo contrário: esse ingrediente é um aliado da saúde e da pele. Como um poderoso antioxidante que ajuda a promover luminosidade e hidratação, o cacau contém flavonoides, fitonutrientes com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que auxiliam na proteção aos danos dos raios UV, prevenindo as rugas e combatendo os radicais livres. Isso ajuda a deixar a pele mais brilhante e saudável", afirma a dermatologista. 

Porém, as versões com maior porcentagem de cacau não são agradáveis ao paladar mais doce. Como o cacau é de gosto amargo, a indústria adiciona açúcar e gorduras para deixá-lo mais palatável. E alimentos ricos em gorduras, açúcares e hidratos de carbono, como os chocolates ao leite e branco, têm alto índice glicêmico, explica Cinthia. 

"Muitos estudos sugerem que a alta carga glicêmica na dieta habitual está envolvida com a ocorrência e gravidade da acne vulgar em pacientes predispostos, na medida em que favorece o aumento da secreção sebácea e desenvolvimento de acne. A gordura e o leite presente em chocolates podem colaborar também para o agravamento do quadro", justifica.

Outro ponto de análise, segundo a médica, é a forma de consumo. Comer um ovo de páscoa de uma vez pode gerar picos de açúcar no sangue. Para manter a pele sem complicações com acne é necessário, então, ingerir o chocolate com moderação. "Nenhum alimento é proibido, mas deve ser consumido com bom senso e orientação. Neste caso, quando a acne está em atividade inflamatória e infecciosa, recomendamos o consumo de pequenas doses", afirma.

Qual chocolate escolher?

Se você não quer abrir mão do chocolate nessa Páscoa (e nem teria porquê abrir), saiba qual a melhor opção para o seu paladar e também para a sua pele. Confira:

Chocolate amargo, meio-amargo ou Ruby (rosa) 

Chocolates com mais de 50% de cacau e o padrão ouro (com mais de 70%) fornecem os benefícios antioxidantes dos flavonoides do cacau e podem ser ricos em vitamina C, vitamina E, cálcio, fósforo, ferro, potássio e sódio, micronutrientes que também são importantes para a pele. 

"Essa é a realmente a melhor opção, já que traz menos quantidade de carboidratos e açúcar, além de contar com ação antioxidante e anti-inflamatória. As versões deste chocolate com oleaginosas trazem mais benefícios e nutrientes, principalmente para pacientes com pele seca", afirma Cinthia.

O chocolate Ruby (rosa), que também tem alta concentração de flavonoides, da mesma forma traz benefícios para a pele. Mas nada de se esbaldar, alerta a médica. A recomendação diária é de 30g — portanto, um ovo de 200g de chocolate pode ser consumido, em média, em uma semana.

Chocolate ao leite e branco 

Apesar de não serem proibidos, o ideal é evitá-los ou consumi-los com moderação, pois possuem mais gordura e açúcar. "Pacientes de pele oleosa devem evitar também esse tipo de chocolate principalmente se ele ainda tiver amendoim e castanhas, que trazem mais gorduras saturadas (e muitas vezes mais açúcar) para a pele e as glândulas serão as responsáveis por excretar este acúmulo de gordura", afirma a especialista.

Ovo de páscoa de colher ou recheados

As opções mais calóricas concentram mais açúcar e gordura ainda, já que os recheios são semelhantes aos de um bolo. "O melhor é ingerir com parcimônia e aos poucos, para evitar picos de glicemia no sangue, piorando o processo inflamatório na pele", adverte Cinthia.

Chocolate sem cacau (cobertura)

Recentemente, muitas marcas passaram a substituir o chocolate (que precisa ter no mínimo 25% de sólidos de cacau na formulação) por cobertura fracionada (que pode ter menos de 25% de sólidos de cacau) nas preparações de ovos de páscoa e barras de "chocolate".

"Esse chocolate que não é chocolate, na verdade, traz em sua composição uma mistura de gorduras, que são hidrogenadas. Nesse sentido, o alimento fica com menor valor nutricional, já que perde as propriedades do cacau, e fica descompensado, com mais gordura e açúcares, o que favorece a inflamação na pele com acne", destaca a médica.

Chocolate com licor 

As opções de ovos de páscoa que contam com licor podem ser ainda mais perigosas para a pele. Além da acne, podem ajudar a inflamar o tecido. "O álcool é um carboidrato de alto nível glicêmico e, como todo carboidrato, quando em excesso, realiza um processo de glicação, o qual impacta diretamente na beleza da pele e dos cabelos. A glicação é um processo químico no qual o açúcar em excesso no organismo se liga às proteínas, como o colágeno e a elastina, fazendo com que se tornem rígidas, fraturem e percam sua função de maneira irreversível", esclarece a dermatologista Dra. Lilian Brasileiro, também membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. 

"O álcool também promove uma desidratação intensa na pele, deixando ela desvitalizada e, por outra via, ele aumenta a produção de sebo cutâneo de má qualidade, refletindo em uma pele desvitalizada", acrescenta Lilian.

O que fazer ao notar a presença de acnes?

Por fim, a Dra. Cintia enfatiza que, ao notar o surgimento do quadro acneico, o mais importante é visitar um dermatologista, que poderá realizar uma avaliação de sua pele e identificar a causa do problema para indicar o tratamento mais adequado para o seu caso. 

"Apenas o profissional especializado poderá indicar substâncias específicas para dar fim à acne, como os retinóides, que desobstruem os poros, aceleram a renovação celular e reduzem a oleosidade, o ácido salicílico, que combate a inflamação, e o peróxido de benzoíla, que tem ação secativa para combater a bactéria P. Acnes. Ou então indicar medicamentos orais como a isotretinoína", finaliza.

Saúde em Dia
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