Quinoa dos Andes será cultivada na África e na Ásia para combater a fome
O grão de quinoa, original dos Andes, será cultivado em países da África, da Ásia e do Oriente Médio para ajudar a combater a fome, anunciou neste sábado a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
O anúncio foi feito pelo diretor da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, em cerimônia realizada na cidade boliviana de Oruro, junto do presidente da Bolívia, Evo Morales, para encerrar o Ano Internacional da Quinoa.
Graziano destacou que a quinoa (chenopodium quinoa willd) tem "qualidades nutricionais únicas e uma enorme adaptabilidade" em seus cultivos, motivos pelos quais 26 países da África, outros da Ásia e do Oriente Médio manifestaram à FAO interesse em experimentar as plantações do grão.
Várias dessas nações estão em áreas do Chifre da África, que sofre por "terríveis secas" que destroem os cultivos de trigo, mas onde a quinoa pode se desenvolver por precisar de pouca água, explicou Graziano.
A FAO apóia esses países para que introduzam as sementes de quinoa na economia familiar e também em nações como o Butão, Brunei e Sri Lanka.
"Esse alimento sagrado seguiu a rota aberta pelo milho e a batata, também originárias dos territórios indígenas latino-americanos e que hoje são a base da alimentação mundial", acrescentou o brasileiro.
O Ano Internacional da Quinoa foi considerado bem sucedido por permitir fortalecer alianças para a pesquisa sobre o grão e projetos para seu desenvolvimento global, um trabalho que permitirá melhorar a produção mundial do alimento, hoje liderada pela Bolívia.
Os cultivos bolivianos abrangem atualmente uma superfície de 169.094 hectares que produzem 95.530 toneladas do grão, cerca de quatro vezes que as 27.739 toneladas de 2005.
Os cultivos bolivianos representam 46% da produção mundial do grão, e o Peru é o segundo produtor com 42%. O governo peruano foi um dos promotores das celebrações internacionais dedicadas ao alimento andino.
O diretor da FAO reconheceu que uma meta pendente é conseguir que os camponeses que cultivam o grão por gerações se beneficiem dos altos preços internacionais do produto, porque hoje são os intermediários que obtêm as maiores receitas.
É um alimento com propriedades superiores às do trigo, do arroz e do milho em relação a quantidade de proteínas (maior) e de gordura (menor), segundo os relatórios oficiais do governo boliviano.
"A produção de quinoa representa uma oportunidade não melhorável para satisfazer a fome do mundo usando pouca água", disse Morales, embaixador do Ano, ao lembrar que as plantações nativas crescem em terras áridas e são resistentes a pragas, secas e solos pobres.
"Com a quinoa certamente podemos salvar uma boa parte da humanidade", comentou o líder boliviano, que citou a importância que teve o grão, como um presente da "Mãe Terra", para os impérios andinos pré-hispânicos tiahuanacota e inca.
O presidente destacou a Bolívia ter 1.300 variedades de quinoa, que podem ser semeadas em territórios de altitudes superiores aos quatro mil metros e em plantações no nível do mar.
No entanto, uma variedade exclusiva do território boliviano, a denominada "quinoa real", cresce perto de salgares e montanhas andinas, e é a de maior qualidade e custo.
Durante a cerimônia de encerramento do Ano da Quinoa, Morales e Graziano experimentaram um prato gigante do grão, chamado "pisara", preparado em dois dias por centena de cozinheiros.
A comida foi feita com seis quilos de quinoa branca, vermelha e negra, 150 quilos de carne de lhama e 250 quilos de queijo.
O governo de Oruro solicitará que este prato seja reconhecido como o maior do mundo já elaborado com quinoa pelo livro dos recordes, o Guinness Book.