De camelô a restaurateur: conheça o chef do Rinconcito Peruano
Abrindo a 11ª unidade da casa especializada em culinária peruana, Edgar Villar comemora os 20 anos do restaurante em São Paulo
"Não sou de Lima, sou de um dos estados mais pobres do Peru. Com 11 anos de idade perdi meu pai, que trabalhava na roça, e não tinha mais o que fazer lá. Fui à capital ver família e não voltei mais. Eu vi oportunidade para mim", conta o precoce Edgar Villar, fundador do Rinconcito Peruano.
Era de se imaginar que, em plenos anos 1980, uma mãe teria dado um safanão e gritado: "Está maluco, moleque!". Porém, sua mãe, que hoje também vive em São Paulo, deixou o tal moleque ir.
Nascido em Apurímac, aos pés da Cordilheira dos Andes, Edgar tem como primeiro idioma o quéchua, mas é mais do que fluente em espanhol, português e business: "Me sustento desde os 11, já vendi tudo o que pode ser vendido: bala, picolé, geladinho, jornal, frutas". Tudo isso, só no Peru.
Pulando de casa em casa, chegou à faculdade de educação física, "mas era particular, e me endividei". Numa travessia de oito dias de ônibus, trem e caminhadas, US$ 250 na mochila e muita incerteza, chegou a Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Mais dois dias dentro de outro ônibus, a um hotelzinho na Avenida Rio Branco, no centrão paulistano.
De camelô a chef
Não que Edgar seja o Silvio Santos peruano, mas em quatro dias de São Paulo tinha trocado teto e alimentação por venda de pulseirinhas de coco. Meses depois, já tinha seu próprio negócio de bijuterias na Rua 25 de março. Então, cansou de correr da polícia para esconder mercadoria. A solução? Cozinhar.
"Com os caras que faziam comida, a polícia não fazia nada. Eu não tinha panela, não tinha fogão, não tinha nada. Pedi emprestado uma boca de fogão de uma amiga peruana e me encorajei", relembra.
Era 2003. Edgar fazia arroz chaufa (arroz frito de tradição sino-peruana), lomo saltado (refogado de carne, cebola, tomate e batata frita), talharim saltado. No primeiro dia, ele vendeu quatro pratos, no segundo sete e, em poucos meses, bateu os 150.
"No começo, eu não tinha marmita, colocava em tupperware e me atrasava porque era só uma boca, mas o meu cliente era fiel. Nunca na minha vida imaginei que trabalharia nesse ramo", confessa. Já marmiteiro profissional, porém, o cozinheiro sentiu a necessidade de um restaurante.
Um rinconcito
Nesta terça, 10 de setembro, o restaurateur de 45 anos abre o 11º Rinconcito. Agora, na Galeria Metrópole, na República. Edgar Villar aproveita a deixa para lançar um festival de trios: "Tem gente que come há 20 anos ceviche e não consegue comer mais de um tipo, porque é bem grande, então criei combos para compartilhar. Ou não".
A dica é, sim, dividir, porque eles são generosos! A saber: o trio de ceviches (pescado, salmão e misto) e o com ceviche clássico, chicharrón de pescado e arroz com mariscos saem a R$ 89,90 cada. O de anticuchos (espetinhos), lomo saltado e arroz chaufa, R$ 79,90. O de polvo parrillero, arroz de mariscos e mariscos na parrilla, R$ 99,90. Para adoçar, torta três leches, alfajor e suspiro limeño com um café espresso a R$ 39,90.
"Agora faço bacharelado na Anhembi Morumbi, estou aprendendo técnicas diferentes. Um dia quero ter um restaurante pequeno para mostrar, porque me encanta cocinar", conta o chef. E continua: "Me sinto feliz por ter difundido a cultura peruana, mas muita gente ainda não conhece. Pretendo abrir em outros estados, a começar pelo Rio".
Rinconcito Peruano
Av. São Luís, 187, loja 35, República. Seg. a qui. das 11h30 às 16h; sex. e sáb. das 11h30 às 18h. Tel.: (11) 3223-8088