Script = https://s1.trrsf.com/update-1731945833/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Os mitos sobre café e vinho em que talvez você ainda acredite

O que dizem os estudos mais recentes sobre essas bebidas? Consultamos dois cientistas que pesquisam o efeito do café e do vinho tinto na saúde humana.

22 ago 2022 - 07h22
(atualizado às 18h04)
Compartilhar
Exibir comentários
Mulher tomando café
Mulher tomando café
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Muitas vezes somos bombardeados com informações sobre alimentos e substâncias que supostamente são benéficas por seus efeitos "protetores" sobre a saúde e suas "virtudes nutricionais".

Mas os conselhos dietéticos e as avaliações que ouvimos sobre alguns alimentos parecem estar mudando o tempo todo.

Duas das substâncias alimentares mais estudadas por seus efeitos na saúde humana são o café e o vinho tinto. E sobre eles já ouvimos que podem ter impactos "prejudiciais" ou "benéficos"em nosso corpo.

O que dizem os estudos científicos mais recentes sobre essas bebidas? Consultamos dois cientistas que pesquisam o efeito do café e do vinho tinto na saúde humana.

Café e mortalidade

Aquela xícara de café pela manhã que faz parte de nossa rotina diária pode estar relacionada ao prolongamento das nossas vidas. Ou pelo menos essa é a conclusão de um estudo publicado em julho no periódico científico Annals of Internal Medicine, que acompanhou quase 200 mil pessoas por 10 anos.

Os pesquisadores descobriram que aqueles que bebiam de 1,5 a 3,5 xícaras de café por dia — mesmo com uma colher de chá de açúcar — tinham até 30% menos chances de morrer durante a década do estudo do que aqueles que não bebiam café.

Para quem tomava café sem açúcar, o risco de morrer era entre 16 e 21% menor. E aqueles que tiveram o menor risco de morte durante o período do estudo foram os que bebiam três xícaras de café por dia.

Não é o primeiro estudo a encontrar um risco reduzido de morte entre as pessoas que tomam café. Em 2018, outro estudo que acompanhou mais de 500 mil pessoas por 10 anos também encontrou uma redução de 16% no risco de morte prematura.

E vários estudos encontraram essa redução mesmo entre aqueles que bebiam café descafeinado, sugerindo que o benefício pode vir de alguns dos milhares de compostos que o café contém.

Muitas pessoas, no entanto, continuam a pensar que o café é prejudicial e que devemos limitar o consumo desta substância. Erramos sobre o café?

"Há algum tempo, nossa perspectiva sobre o efeito do café na saúde mudou radicalmente", diz Esther López-García, professora de medicina preventiva e saúde pública da Universidade Autônoma de Madri à BBC Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.

López-García participou de vários estudos sobre os efeitos do café no desenvolvimento de doenças cardiovasculares e incapacidades.

"A partir de 2003, começaram a ser realizados estudos em grandes populações, nas quais o consumo de café era medido regularmente durante anos e se via como isso afetava o risco de morte prematura, doenças cardiovasculares ou diabetes tipo 2", explica ela.

"Constatou-se que ajustando fatores que também afetam a saúde, como o uso de tabaco e álcool, o consumo regular de café não tem efeitos prejudiciais. Foi até mesmo considerado benéfico na prevenção do desenvolvimento de diabetes tipo 2 e acidente vascular cerebral", acrescenta.

"Viu-se também que os efeitos nocivos da cafeína não se mantêm nos consumidores regulares, que desenvolvem tolerância a esta substância, e neles, os efeitos benéficos de outros componentes do café têm maior impacto na saúde", afirma a especialista.

Nos numerosos estudos que foram feitos sobre o café surgiram evidências sobre seus supostos efeitos protetores contra a doença de Parkinson, e também foi dito que protege contra a deterioração cognitiva em geral, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer.

Mas a professora López-García enfatiza que "a evidência mais sólida é para o diabetes tipo 2. Para o restante das doenças, ainda não está claro".

"Sabe-se que não é prejudicial para doenças cardiovasculares e tampouco para câncer de mama. E acredita-se que a cafeína reduz o risco de doenças neurodegenerativas, mas os resultados ainda não são claros."

Café contém mais de mil compostos químicos, e muitos deles estão sendo amplamente investigados
Café contém mais de mil compostos químicos, e muitos deles estão sendo amplamente investigados
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O café contém mais de mil compostos químicos, e muitos deles estão sendo amplamente investigados.

Ele contém, por exemplo, uma enorme quantidade de antioxidantes, que outras pesquisas mostraram que podem prevenir ou retardar o dano celular.

A professora López-García explica que os efeitos benéficos do café se devem fundamentalmente a um desses antioxidantes: o ácido clorogênico.

"É um antioxidante que tem muitos efeitos benéficos no metabolismo da glicose. Contém também outras substâncias, como o magnésio, que é um mineral com inúmeros efeitos à saúde", diz.

Talvez parte da "má imagem" que o café teve no passado seja porque em algumas pessoas a cafeína pode causar ansiedade ou insônia.

É por isso que a especialista da Universidade Autónoma de Madrid salienta que em pessoas saudáveis o consumo habitual de 3 a 5 xícaras de café "pode ser benéfico".

"Hoje o consumo de café, sem açúcar, é recomendado como bebida saudável em muitos guias alimentares."

Mas acrescenta que "todas as pessoas com problemas de saúde que possam ser agravados pelo consumo de café (insônia, ansiedade, hipertensão não controlada, refluxo gastroesofágico ou arritmias cardíacas) devem receber aconselhamento individualizado sobre o consumo desta bebida".

"Neste momento, as evidências científicas nos permitem afirmar que o melhor para sua saúde é consumir o mínimo de álcool possível", diz especialista
"Neste momento, as evidências científicas nos permitem afirmar que o melhor para sua saúde é consumir o mínimo de álcool possível", diz especialista
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Vinho e seus "efeitos protetores"

O vinho tinto tem sido frequentemente apresentado como "a face saudável" do álcool.

Vários estudos nas últimas décadas levaram-nos a acreditar que um copo de vinho "ocasional" está associado a uma melhor saúde cardiovascular devido aos seus efeitos "protetores" sobre o coração.

Por exemplo, um estudo publicado em 2019 na revista científica Molecules sugere que o vinho tinto, devido à grande variedade de compostos polifenólicos que contém, está associado a um menor risco de doença cardíaca coronária.

Mas em janeiro deste ano a Federação Mundial do Coração (WHF, na sigla em inglês) publicou uma revisão de pesquisa mostrando que o álcool definitivamente não é bom para a saúde cardiovascular.

"Nas últimas décadas, a prevalência de doenças cardiovasculares (DCV) quase dobrou", observa o relatório da WHF, "e o álcool desempenhou um papel enorme na incidência de muitas delas".

A organização observa que "há mais de 30 anos tem havido uma mensagem difundida promovendo o mito de que o álcool prolonga a vida, principalmente reduzindo o risco de doença cardíaca coronária".

Mas o relatório acrescenta que "o risco devido ao consumo de álcool é aumentado para a maioria das doenças cardiovasculares" e para muitas outras doenças.

Então o vinho tinto é bom ou ruim? Perguntamos isso a Miguel Marcos Martín, pesquisador do Instituto de Pesquisas Biomédicas de Salamanca e professor da Universidade de Salamanca (Espanha), que participou de vários estudos sobre os efeitos do álcool na saúde.

"É verdade que existem estudos que relacionam o consumo de álcool a possíveis benefícios para a saúde, com resultados controversos e inconclusivos, mas não podemos esquecer que muitos outros estudos mostram claramente que é uma substância com muitos efeitos nocivos, mesmo em doses baixas", explica.

"Por todas essas razões, neste momento o consumo de qualquer quantidade de álcool ou tipo de bebida não pode ser recomendado por motivos de saúde."

Martín afirma que a mensagem de que o vinho tinto tem "efeitos protetores" para o coração "é um conselho que, em primeiro lugar, não está claramente baseado em evidências científicas porque não foi provado conclusivamente que assim seja" .

"Por outro lado, mesmo sendo verdade que o vinho tem efeito protetor contra algumas doenças, não podemos esquecer os efeitos colaterais que produz. As bebidas alcoólicas causam dependência, cirrose hepática, pancreatite, etc."

O argumento para os supostos efeitos protetores do vinho na saúde cardiovascular é baseado no resveratrol, que faz parte de um grupo de compostos chamados polifenóis. Acredita-se que eles atuem como antioxidantes, protegendo o corpo contra danos celulares que podem aumentar o risco de doenças como câncer e doenças cardiovasculares.

Mas, como explica o médico do Hospital Universitário de Salamanca, seriam necessárias quantidades muito maiores desse composto do que as encontradas em algumas doses de vinho para obter esses efeitos na saúde.

"O potencial efeito positivo do vinho é atribuído tanto à própria molécula de etanol quanto ao resveratrol e outras substâncias antioxidantes contidas no vinho", diz o especialista.

"Não está comprovado, no entanto, que a administração dessas substâncias separadamente tenha um efeito positivo na saúde a longo prazo, por isso é ainda menos claro que sua ingestão, nas pequenas quantidades contidas no vinho, possa ser benéfica para a saúde", acrescenta.

Muitas pessoas tendem a pensar que o álcool causa mais danos à saúde quando consumido em excesso. Mas, na realidade, mesmo o consumo moderado, como uma taça de vinho todos os dias, pode gerar impacto negativo no corpo.

"O consumo de álcool em pequenas doses (por exemplo, um copo de vinho ou uma cerveja) está associado a um pequeno aumento do risco de desenvolver tumores (por exemplo, tumores de cabeça e pescoço, mama ou cólon), assim como fibrilação atrial (uma arritmia muito comum)", diz Martín.

"Felizmente, consumir pequenas quantidades também está associado a poucos riscos, mas tudo se soma."

O principal, diz o especialista, é não acreditar que beber vinho faz bem à saúde.

"Neste momento, as evidências científicas nos permitem afirmar que o melhor para sua saúde é consumir o mínimo de álcool possível."

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62608090

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade