Paola Carosella: 'Sem o oficio de cozinheira não sou nada'
A chef que acaba de arrebatar o prêmio de melhor influenciadora de culinária e gastronomia fala nesta entrevista sobre a cozinha com papel social, desafios e afetos em tempos de haters
Na semana em que Paola Carosella arrebatou o prêmio i-Best de Melhor do Brasil na categoria Influenciadora de culinária e gastronomia, a chef de cozinha, empresária e apresentadora fala aos leitores de Paladar sobre como a cozinha pode ter uma função política e social. Sobre o prazer por desafios e ainda das delicadezas necessárias em tempos de haters.
Paladar Podemos começar com a frase do padre Júlio Lancellotti, mencionada no seu discurso de agradecimento no prêmio i-Best: "cozinhar pode ser um ato revolucionário". Qual o impacto dessa frase no seu trabalho e na sua vida atualmente?
Paola Carosella Nos últimos anos senti muito o peso da realidade, mais do que em outros momentos. Talvez porque a TV e o trabalho fora da cozinha tenham me levado para mais perto da realidade. A situação de pessoas que já eram muito vulneráveis foi agravada durante a pandemia e a minha participação ativa em várias causas me abalou muito. Pensei: como me conectar com a beleza e a arte da comida num mundo tão desigual e cruel para alguns? Mas a realidade é que sem o oficio de cozinheira não sou nada. Então essa frase (do padre Júlio Lancellotti) me ajudou a entender meu lugar na cozinha. Que vai além dos ingredientes, das receitas e das técnicas e inclui também o compartilhar conhecimento.
Quando você fala sobre compartilhar conhecimento, como esse trabalho é realizado na prática na sua cozinha e em outras áreas de atuação profissional e pessoal?
Ensinando, acolhendo, respeitando diferenças, treinando, expondo cozinheiras, cozinheiros e cozinheires a diferentes aprendizados e experiências. Conversando, passando tempo com eles, abrindo portas, mostrando caminhos, sendo amorosa e trazendo diversidade para o ambiente de trabalho.
A conquista do i-Best de Melhor do Brasil na categoria Influenciadora de culinária e gastronomia pelo voto popular diz muito sobre a sua relação com quem acompanha seu trabalho nas redes sociais. Quando você percebeu que, além de cozinheira, você também é uma grande comunicadora?
Isso é algo que ainda não consigo entender verdadeiramente. Às vezes me sinto uma boa comunicadora, mas meu lugar de conforto ainda é na cozinha. Mesmo sendo uma pessoa que gosta de desafios; lugares novos e desconhecidos me seduzem muito.
Como tem lidado como o fato de equilibrar tantos pratos diferentes ao mesmo tempo: empresa, cozinha, redes sociais, TV... Em algum momento achou que a receita ficou desequilibrada?
Sim, muitas vezes... Essa é uma receita em constante construção.
Com histórias de sucesso em diversos segmentos profissionais, o que faria seus olhos brilharem de uma maneira especial neste momento?
Talvez, aos poucos, equilibrar melhor esses pratos todos, focar em menos coisas e com mais tempo.
Ser uma pessoa de opinião, que não teme falar sobre o que acredita de verdade, é um ato de coragem, especialmente em tempos de haters. Como tem lidado com a torcida do contra nas redes sociais?
Algumas vezes é mais fácil, em outras ocasiões o comentário fere mais. É bom lembrar, porém, que todo mundo é corajoso na invisibilidade, muito desse ódio não seria possível ao vivo. A internet tem outra magnitude. Mas a vida real acontece fora das redes.
A doçura parece muito representada no ambiente que você cria ao seu redor. Sua cozinha tem uma delicadeza especial. A maneira como você ensina uma receita tem uma doçura. Qual é a importância que você dá ao cenário ao seu redor? Ao tom que dá às palavras, mesmo que, às vezes, elas sejam de difícil digestão para algumas pessoas?
Queria poder ser doce o tempo todo. Verdadeiramente, acho que a calma educa, constrói, ensina. Mas nem sempre consigo estar calma...