Filhos da quarentena: a maternidade em tempos de coronavírus
Mães que tiveram filhos contam como a adaptação e o adiamento de planos nem sempre precisam ser vistos como um problema
Quando descobriu que estava grávida, a estudante de pedagogia Gabriela Cesario Alvim, de 27 anos, tinha outros planos para o momento da chegada de Bella. Nem ela, nem o marido, a família, os médicos e ninguém imaginava que o mundo estaria tão bagunçado logo nos primeiros dias de vida da pequena. “Fiquei assustada”, admite.
As notícias de que um novo vírus, que já havia se espalhado pelo mundo, chegava ao Brasil faziam jus ao sentimento da mãe de primeira viagem. Diante de uma pandemia sem precedentes, o novo coronavírus se mostrou uma ameaça real à população brasileira no meio de março, medidas de isolamento social passaram a impactar a sociedade.
“A maternidade estava com novas regras. Só tive direito de ter um acompanhante, sem poder trocar. Apenas meu marido esteve comigo durante o período que passei no hospital. Nem minha mãe pôde me ver”, conta Gabriela.
O medo não é exclusividade das menos experientes. Mesmo sendo mãe de Valentina, de 5 anos, a autônoma Cátia Vieira, 34, sentiu o baque quando percebeu que era melhor optar pela mudança de parto de Joaquim, passando de normal para uma cirurgia cesárea. “Meu obstetra achou melhor antecipar”.
Flávia Denone, jornalista, de 35 anos, também foi pega de surpresa quando percebeu que seria apenas ela, o marido e Samuel - que nasceu no dia 9 de março. “Para preservar a saúde da minha mãe, avó e irmã, tive que voltar para minha casa”, conta ela, que havia se programado para ficar na casa da mãe nos primeiros dias do bebê.
O mesmo aconteceu com Isabela Banjai, advogada, 26, que teve o Arthur há duas semanas. “A incerteza de amigos e familiares de não saber quando poderão vê-lo chateou todos”, lamenta ela, que encontrou na tecnologia um modo de aproximar o filho dos entes queridos por meio de chamadas de vídeo e um perfil no Instagram apenas dedicado a ele.
Além de uma vida, todas essas mães também construíram expectativas e sonhos durante os nove meses da gestação. Por motivos de força maior, os planos precisaram ser adiados ou adaptados. Mas nada disso impede que a maternidade seja aproveitada - afinal, o tempo não para, já diria o clichê. Os “filhos da quarentena” não vieram no momento errado. Eles chegaram justamente quando o termo “esperança” ficou escasso e querem mostrar ao mundo que é preciso acreditar em um futuro bom.