Ser mãe na quarentena: mudanças no parto durante a pandemia
Está com o parto previsto para o período de quarentena? Saiba o que muda no procedimento e quais cuidados deve tomar.
As repercussões do novo coronavírus em gestantes ainda não são totalmente conhecidas. A pandemia pegou todos de surpresa e diversos estudos ainda estão em andamento a respeito do vírus. Afinal, quem está com o parto marcado para o período de quarentena deve repensar os planos e, se possível, optar por um parto doméstico? E no caso de infecção da mãe, ela pode transmitir a doença para o recém-nascido? Existe risco da criança contrair o vírus na maternidade?
Para esclarecer a essas e mais dúvidas, o Terra entrou em contato com a Febrasgo, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, que respondeu a algumas das principais dúvidas que envolvem o novo coronavírus e as gestações.
Confira abaixo as respostas dos especialistas:
Estava planejando minha gravidez para este período. O que devo fazer diante deste cenário?
De acordo com o médico Olímpio Barbosa de Moraes Filho, presidente da Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal da Febrasgo, o planejamento de uma gravidez deve ser adiado, se possível. Segundo o médico, o simples fato de o novo coronavírus não ser totalmente conhecido pela ciência já é preocupante. Além disso, como o efeito secundário da gravidez é uma quebra do isolamento social para a realização de exames e consultas médicas, o risco de infecção pode aumentar.
Quais são os efeitos da infecção sobre a gestação?
Segundo os pesquisadores especialistas em obstetrícia, as repercussões da infecção sobre a gestação ainda não são totalmente conhecidas. Até o momento, não há dados que sugiram que a infecção seja causa de aborto, de malformação fetal ou de outras complicações obstétricas. O momento da interrupção deve seguir as mesmas recomendações da gestante não infectada. Sempre que possível, o nascimento do bebê deve ser adiado caso a gestante apresente queixas respiratórias. No entanto, a interrupção exclusivamente por infecção por covid-19 pode ser necessária em casos graves para melhorar a oxigenação materna.
Devo mudar a escolha da maternidade ou hospital devido ao coronavírus?
Atualmente, a infecção pela covid-19 é considerada como sendo comunitária. Contudo, não há dados que sugiram que a gestante está mais propensa a adquirir a infecção. A gestante que não tiver sintomas de covid-19 pode manter sua opção quanto à escolha da instituição para seu parto. Cada maternidade tem suas características e realidades. Assim, indica-se que a gestante se informe previamente com a instituição. Caso apresente sinais e/ou sintomas, a futura mãe deve discutir com seu médico o melhor hospital. Essa escolha deve levar em consideração diversos fatores, como a equipe assistencial qualificada, equipamentos adequados, disponibilidade de laboratório e exames de imagem, banco de sangue, leito de isolamento, UTI neonatal e/ou de adulto etc.
Devo optar pelo parto domiciliar para diminuir o risco de contaminação?
Na avaliação do médico Olímpio Barbosa de Moraes Filho, não. Isso porque a estrutura de um parto domiciliar, mesmo que reduzida, ainda envolve o contato com dois ou mais profissionais de saúde, afetando assim o isolamento social. Segundo o médico, não há pesquisas que indiquem menor risco de contágio no procedimento feito em casa. Observa-se ainda que os riscos de um parto domiciliar são muito maiores do que os eventuais riscos de contaminação pelo novo coronavírus em uma maternidade.
Quais cuidados devo tomar em relação à chegada ao hospital/maternidade?
Os cuidados de prevenção devem ser os mesmos adotados fora do ambiente hospitalar: evitar contato próximo com as pessoas (manter distanciamento de pelo menos 1,5 metros), higienização frequente das mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos e/ou com emprego de álcool gel 70%, evitar tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos não lavadas, não compartilhar copos, talheres e objetos de uso pessoal, cobrir boca e nariz com lenço de papel ao tossir ou espirrar e usar máscara se houver sinais de gripe. Deve-se evitar acompanhantes (ou visitas) menores de idade ou com mais de 60 anos, portadores de qualquer sintoma respiratório, febre ou doenças crônicas. A instituição deve manter o menor número possível de pessoas circulando. Recomenda-se também que se abstenha da presença das doulas. Em grande parte dos hospitais no Brasil, os partos estão sendo feitos sem o direito a acompanhantes, para diminuir o contágio.
A visitação ao recém-nascido deve ser evitada?
As regras para visitação são determinadas por cada instituição, de acordo com suas características. O ideal é evitar as visitas, tanto no hospital, quanto em casa. Hoje, com os aplicativos de videoconferência fica mais fácil aceitar isso.
Qual o risco de a criança contrair o vírus na maternidade?
Os poucos casos descritos de infecção do recém-nascido sugerem que a infecção ocorreu após o nascimento, sendo necessária a implementação de medidas que diminuam a transmissão. Puérperas com infecção pelo SARS-coV-2 (suspeita ou confirmada) devem ser mantidas em quarto de isolamento individual. Se a mãe estiver com quadro clínico estável e o recém-nascido for assintomático, o mesmo poderá ficar junto com a mãe em alojamento conjunto desde que haja possibilidade de manter a distância mínima de 2 metros entre o leito da mãe e o berço
Fui diagnosticada com covid-19. Posso amamentar?
Como o vírus é altamente contagioso, é extremamente importante que a mãe tome cuidado ao manusear o bebê. Não há contraindicação à amamentação desde que as condições maternas permitirem. No intervalo entre as mamadas, o berço deve permanecer a, pelo menos, dois metros da mãe. Caso a mãe opte por não amamentar, existe a opção de extrair o leite manualmente ou usar bombas de extração de leite após higiene adequada. Um cuidador saudável poderá oferecer o leite ao bebê.