Digitalização na infância: impacto da tecnologia na vida das crianças
A tecnologia é uma vilã ou é hora de repensar o nosso comportamento?
Basta ir a um restaurante ou dar uma volta no shopping para ver uma grande quantidade de crianças distraídas ou concentradas na tela do celular. Muitas delas, por mais novas que sejam, já têm o seu próprio smartphone. Essa mudança de comportamento é reflexo da presença constante da tecnologia na nossa vida, fruto da inovação e da evolução da sociedade, cada vez mais conectada. Mas será que isso faz bem para o desenvolvimento delas?
Segundo a pesquisa “Crianças e adolescentes com smartphones no Brasil”, publicada pela Mobile Time em parceria com a Opinion Box, 26% das crianças com idade entre 4 e 6 anos possuem smartphone próprio. Se baixarmos um pouco a idade, veremos que 7% das crianças entre 0 e 3 anos já possuem seu próprio celular.
Eu sou do tempo do pager (ou bip, como a gente costumava falar) e depois do celular “tela verde” em que a principal funcionalidade do aparelho era fazer ligações. Inclusive, esse gosto pela tecnologia sempre me proporcionou momentos muito bons com os meus filhos, quando, por exemplo, tiro algumas coisas do armário e mostro para eles os itens que eram do meu tempo.
Por que as crianças têm celular cada vez mais cedo?
Quando li o estudo, tentei entender o motivo que leva as pessoas a darem de presente um celular para uma criança pequena. Então, descobri que, ao serem perguntados “por que a criança tem um smartphone?”, a maioria dos entrevistados respondeu que entre 0 e 3 anos (58%), 4 e 6 anos (74%) e 7 e 9 anos (61%) usam o aparelho para se entreter.
Só na faixa etária entre 10 e 12 anos é que a comunicação passa a liderar como principal motivo para dar o celular às crianças. Ao cruzar esses dados com o tempo de tela, temos os seguintes dados:
0 a 3 anos: 1 hora e 28 minutos
4 a 6 anos: 1 hora e 35 minutos
7 a 9 anos: 2 horas e 15 minutos
10 a 12 anos: 2 horas e 45 minutos
13 a 16 anos: 3 horas e 58 minutos
Nesse cenário, é fácil colocar a tecnologia como a grande vilã na criação dos pequenos, algo a ser evitado ou combatido. Isso é um erro, pois ela já faz parte na vida desses jovens e adolescentes. Pense comigo, a nossa geração conheceu a tecnologia ao longo da vida. Essas novas gerações já nasceram com a tecnologia presente no seu dia a dia.
É hora de repensar o nosso comportamento?
O que precisamos rever são os nossos hábitos, principalmente nas idades de pré-adolescência e adolescência. Por que não aproveitar esse tempo para criar, aprender, desenvolver e fazer descobertas com o apoio das soluções tecnológicas disponíveis no mercado? O que precisamos adotar é o controle, a supervisão e o acompanhamento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) possui uma série de recomendações para os pais evitarem a exposição excessiva às telas, que podem prejudicar o desenvolvimento, causar doenças oftalmológicas e distúrbios comportamentais.
No entanto, quando há orientação médica e familiar, videogames e computadores têm potencial de aumentar a autoestima de pacientes, apoiar sessões de fisioterapia e funcionar como plataforma de educação e trabalho remoto.
Em relação a isso, um termo está ganhando mais força: a terapia gamificada. Já ouviu falar? O conceito se refere a videogames desenvolvidos especificamente para reabilitação, que podem trazer benefícios. No entanto, os especialistas acreditam que, por ser uma solução nova, ainda há poucas pesquisas e amostragem sobre os resultados desses tratamentos, mas que é algo para olhar no futuro.
Equilíbrio é a chave
Entre tempo, excessos e oportunidades, o equilíbrio é o ideal para garantir benefícios. Estabeleça uma rotina diária que não atrapalhe outras atividades básicas como estudar, brincar, comer e dormir. Saiba quais são os jogos, plataformas e redes sociais que as crianças e adolescentes estão, além de apresentar canais para aprendizado e pesquisa.
No caso dos menores, limitar o tempo de tela e aplicar jogos educativos são formas interessantes de manter um contato controlado e benéfico com a tecnologia. Já para os maiores, existem cursos de programação, design de games e outras formas de estudos que estabelecem uma relação saudável com essas soluções.
Como eu sempre digo, a tecnologia é apenas uma ferramenta e o que vai fazer a diferença é a maneira como a utilizamos. E acredito que proibir não é a melhor solução. Estabelecer regras, orientar e acompanhar de perto o uso desses dispositivos pode ser a melhor forma de cuidar das nossas crianças e dos nossos adolescentes, evitando problemas no futuro.
(*) Cristovão Wanderley é sócio-diretor da Stratlab, especialista em tecnologia e dados e participante do programa LinkedIn Creators.