Durante pandemia, cão Gregório reergueu saúde mental de dona: "Ao meu lado o tempo inteiro"
A companhia do animal de estimação trouxe para Gabriele a certeza de um amigo inseparável. O cão ajudou a psicóloga a cessar suas crises de pânico
A convivência entre o ser humano e os animais domésticos não é algo recente. Pesquisas realizadas com DNA dos cães provam que as pessoas e os cachorros podem estar convivendo há mais de cem mil anos. É graças a esse longo tempo que atualmente esses animais evoluíram a ponto de não serem agressivos com os seres humanos, enquanto os seres humanos aprenderam a domesticar os cães.
Hoje as pessoas conseguem compreender muito mais as características desses animais. Sua sensibilidade, linguagem corporal e emoções são tão reais quanto as humanas e, com o convívio, o dono conhece seu pet de forma pessoal. Com essa proximidade, surgem as expressões que denominam esses animais, como "melhor amigo do homem" ou "filho de quatro patas".
Gregório, o novo melhor amigo de Gabriele
O motivo de tamanha relevância que os animais exercem sobre os seres humanos tem explicação. Quem tem um pet sabe explicar melhor que ninguém: adotar um animal de estimação faz bem, por diversos motivos. Gabriele Sanchez Luizon, psicóloga, vive na prática os benefícios de ter um pet.
Gabriele vivia uma vida agitada, trabalhando como babá e cursando a faculdade de psicologia, quando a pandemia chegou e mudou sua rotina. Ela se viu presa dentro de casa, agora com os estudos à distância e um novo emprego online. Seu namorado, que era de outra cidade, se mudou para São José do Rio Preto, em São Paulo, e juntos eles se isolaram.
A nova vivência foi ficando solitária e o casal se viu procurando algo - ou alguém - que pudesse alegrar os dias presos dentro de casa. "A gente começou a pensar em cachorro, e eu nunca tive cachorro antes na minha vida. Então eu estava superanimada, eu não conhecia nada desse universo mesmo", relembrou Gabriele.
Foi assim que apareceu Gregório, um yorkshire de pelos brancos, cinzas e ruivos. Quando a dona viu o cachorro pela primeira vez, foi amor a primeira vista. Assim que bateu os olhos no animalzinho, Gabriele sabia que deveria adotá-lo.
"Foi uma coisa que eu nunca pensei que ia sentir por um animal. Eu peguei ele no colo e eu falei: 'Meu Deus, é ele!'", recorda. Ela ainda conta que a escolha do nome ocorreu de forma automática, pois quando encontrou o cão, já sentiu que seu nome deveria ser Gregório.
"A nossa vida era uma, aí passou a ser outra", constata Gabriele. Segundo a psicologa, a vivência do casal dentro de casa mudou completamente com o novo membro da família. Antes da adoção, a jovem estava passando por um momento complicado em relação a sua saúde mental. O contexto mundial da covid-19 foi propício para a piora de alguns transtornos de Gabriele.
Cão reergueu saúde mental de dona
Diagnosticada com transtorno de ansiedade generalizada e síndrome do pânico, a psicologa relembra os dias difíceis. "Eu estava passando muito mal constantemente. Eu sou do grupo de risco da covid-19, então eu tinha muito medo de sair de casa, de pegar o vírus. Eu lembro que tinha muitas crises de pânico. Isso estava me afetando demais", diz Gabriele.
Mesmo em momentos de descontração, a jovem era atingida pelas crises: "Às vezes, eu estava assistindo a um filme e vinha aquele medo de achar que eu ia morrer naquele momento. Foi muito difícil mesmo".
Foi durante esse período que a jovem decidiu adotar o animal - e ela não se arrepende da decisão. "Por mais que eu estivesse fazendo tratamento, estava sendo difícil. Porque o ambiente não mudava e não tinha perspectiva de melhorar. Aí a gente pegou o Gregório e foi transformador", comenta Gabriele. Ela ainda explica que assim que o cachorro chegou em casa, suas crises automaticamente começaram a diminuir.
A nova rotina que Gabriele passou a ter com Gregório melhorou muito sua condição. "Era uma distração a mais. Levar para passear, ir para o veterinário, isso me forçava a sair também", comenta. Ela ainda relembra que, desde neném, o cachorro era muito agitado, o que trouxe uma animação para a casa do casal.
O pet e seus benefícios à saúde mental
Roberto Debski, médico e psicologo, explica que a adoção de um animal de estimação tem eficácia comprovada. "Estudos já comprovaram que alguém que se torna tutor de um pet tem vários benefícios para a sua saúde mental e também para a saúde física", esclarece o profissional. Entre as vantagens, ele cita o aumento da autoestima e a diminuição dos sentimentos de solidão. "E também é uma redução do sedentarismo. Os donos precisam levar seus pets para caminhar, e a atividade física auxilia no tratamento dos transtornos emocionais", complementa.
"Ocupar seu tempo com um animal de estimação alivia os sintomas de ansiedade, de stress, de depressão", elucida o médico. Ele ressalta a importância de seguir também com os tratamentos tradicionais, com acompanhamento de um psicologo e/ou psiquiatra. A adoção de uma animal não substitui a importância desses tratamentos, mas se soma a eles para uma melhora mais eficiente.
"Ao meu lado o tempo inteiro"
A responsabilidade de ter que cuidar de outro ser vivo também é estimuladora nesse processo. Gabriele cita os diversos cuidados que tem com seu cachorro. "Ele tem os horários de comida dele. Se a gente for sair ou viajar, por exemplo, a gente tem que deixar ele aos cuidados de outras pessoas", explica a dona. Ela complementa que sua família gosta muito do animal e geralmente seus parentes ficam responsáveis pelo cachorro se ela e seu namorado precisam sair de casa.
"Não é só mais nós dois, né? Tem um Gregório também", aponta a jovem. Ela conta que, diariamente, o cachorro sai para passear duas vezes. Ela divide com o seu namorado essa tarefa, um levando de manhã e o outro a noite. "O fato de sair para passear com ele é uma coisa que traz uma tranquilidade muito grande. É um momento que eu não levo o celular, eu não levo nada, só ele mesmo", explica Gabriele.
Ela ainda comenta que, quando vai passear com Gregório, tenta focar no presente, gerando uma sensação de bem-estar. "A gente tenta focar o máximo no momento presente, o que é uma coisa que eu trabalho dentro da clínica. Então isso traz um relaxamento muito grande", declara. Durante a caminhada, a jovem conta que também é comum encontrar outras pessoas que estão levando seus pets para passear, e esses momentos geram interações entre os donos.
Gabriele também sofre da doença de Crohn, uma condição intestinal inflamatória e crônica que atinge o intestino. "Enquanto eu estive doente, ele estava ao meu lado o tempo inteiro. Eu lembro que eu deitava no sofá, ele também se deitava e ficava comigo", recorda Gabriele. Por conta da enfermidade, precisou passar um tempo internada. O cachorro ficou sob os cuidados do avô da jovem, sendo uma companhia para o idoso nesse momento difícil para a família. "Eu falava com o Gregório até pelo telefone. Por mais que ele não respondesse, eu falava com ele", relembra a jovem, dando risada.
Esse companheirismo ajuda Gabriele a se sentir menos sozinha, mesmo em momentos que não tem mais ninguém na sua casa. "Eu sei que, por exemplo, na hora que vou fazer o meu intervalo aqui durante os atendimentos, vou encontrar ele e ele vai ficar lá do meu lado, vai ficar me olhando", diz a psicologa. Ela comenta que a comunicação com os animais é diferente, mas tem certeza que ele a entende.
Quando questionada sobre o melhor parte de ter a companhia de um animal no seu dia a dia, Gabriele diz que é a responsabilidade que vem com a adoção. "Tem vezes que você está meio para baixo, tem medo, tem vezes que não tá legal, mas o animalzinho está lá e ele vem, te abraça, lambe sua cara, quer subir na cama. Então essa parte é entender que tem outra coisa ali para você cuidar, sabe? Querendo ou não", finaliza.