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É preciso falar com os jovens sobre pornografia

Adolescentes de 12 anos já são expostos, segundo pesquisa

14 dez 2024 - 14h01
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É impossível controlar o que os jovens acessam na internet o tempo todo e em todo lugar
É impossível controlar o que os jovens acessam na internet o tempo todo e em todo lugar
Foto: iStock / Jairo Bouer

Queira você ou não, seu filho ou filha vai entrar em contato ou consumir pornografia. Um estudo divulgado no ano passado mostra que os norte-americanos têm acesso a esse tipo de conteúdo pela primeira vez aos 12 anos, segundo a organização Common Sense Media

Por mais que os pais fiquem de olho no que seus filhos assistem na internet ou utilizem ferramentas de bloqueio, é impossível controlar o que eles veem o tempo todo e em todo lugar. 

Conteúdo agora é outro

E tem mais: a pornografia a que eles têm acesso é muito mais "hard core" do que os antigos ensaios da Playboy ou de outras revistas do gênero que jovens da Geração X compravam escondido.

A pesquisa da Common Sense Media, por exemplo, indica que mais da metade dos adolescentes que acessam vídeos pornográficos, seja por acidente ou vontade própria, encontram imagens de estupro, asfixia ou alguém sentindo dor.

Por tudo isso, não dá para ignorar o assunto. É melhor assumir a realidade e conversar com os adolescentes sobre o que está na internet, conforme explica o pesquisador e cientista social Brian Willoughby, da Universidade Brigham Young, nos EUA, em uma reportagem do The New York Times.

Mensagem principal: não é a realidade

O que Brian e outros especialistas defendem é ensinar os adolescentes o que eles chamam de "literacia pornô". Em outras palavras: explicar que os vídeos pornográficos que rolam por aí são como filmes, e não documentários. Eles apenas refletem fantasias.

"Pornografia é um filme — o que vemos não é a realidade", comenta a psicóloga Beata Bothe, da Universidade de Montreal, no Canadá, outra estudiosa do assunto.  "Mesmo que as pessoas pareçam gostar do que estão fazendo, elas podem não estar realmente aproveitando ou pode ser algo doloroso."

Isso pode ser óbvio para alguns adolescentes mais velhos, de acordo com ela, mas não para os consumidores mais jovens de pornografia que não têm nenhuma experiência sexual na vida real.

Pornografia e satisfação sexual

Um estudo recente de autoria da psicóloga, que contou com 827 jovens adultos, mostrou que certos tipos de pornografia podem afetar o bem-estar sexual dos espectadores. Pessoas que assistem imagens de sexo associadas a paixão ou romantismo tendem a ter mais satisfação sexual em seus relacionamentos íntimos. Já quem vê cenas de sexo que envolvem poder e controle tendem a ter menor satisfação sexual. 

Há evidências de que adolescentes que consomem pornografia se envolvem em comportamentos sexuais mais avançados em idades mais precoces. Mas não é possível saber se o conteúdo assistido é que impulsiona essas práticas, ou se os jovens apenas eram atraídos a esse tipo de conteúdo por já ter um interesse prévio.

O que é importante explicar

Assim, é importante explicar para os adolescentes - principalmente os mais jovens, algumas questões importantes, como o fato de que consentimento é algo crucial no sexo. Ainda que algumas pessoas possam ter fantasias sobre ser forçado a fazer certas coisas, isso não significa que elas gostem disso na prática. 

"A esmagadora maioria dos filmes pornográficos é misógina e machista", comenta Jairo Bouer. Assim, muito do que se estabelece na relação homem e mulher na cama não é apenas reflexo do machismo estrutural da sociedade em que a gente vive, mas também reflexo desses vídeos (que, por sua vez, também espelham a sociedade). Há mulheres que não curtem sexo anal, por exemplo, e muitas delas nem conseguem chegar ao orgasmo apenas com penetração, ou em poucos segundos. 

Também é importante alertar os jovens de que as aparências enganam. Nos vídeos, é comum ver homens musculosos com pênis avantajados, grandes quantidades de sêmen, mulheres magras com seios e bumbum grandes e assim por diante. Tudo isso pode gerar expectativas irrealistas e acabar fazendo com que alguns adolescentes se sintam diferentes ou estranhos ao ter as primeiras experiências íntimas.

Jairo Bouer
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