Especialista alerta sobre pomadas de cabelo que fazem mal aos olhos
Em fevereiro, a ANVISA interditou cinco fabricantes de cosméticos após relatos de mulheres com lesões nos olhos; entenda melhor
As pomadas de cabelo são ótimas aliadas para quem gosta de moldar penteados, principalmente tranças. No entanto, casos frequentes de lesões e perda de visão relacionadas a esse cosmético fez com que a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) interditasse cinco fabricantes apenas neste mês. Esse veto faz parte de uma investigação para entender o motivo que levou centenas de mulheres a lotarem serviços de emergência de hospitais oftalmológicos.
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, que é presidente do Instituto Penido Burnier, as pacientes chegavam com cegueira temporária, inchaço nas pálpebras, lacrimejamento, vermelhidão, dor nos olhos, alergia e cefaleia causada pelo contato dos olhos com pomada para cabelo na piscina, mar, banho e até na chuva. Isso porque, em contato com a água o produto escorreu para os olhos.
Como as investigações ainda estão em andamento, não se tem certeza a respeito do que causou esses problemas. Mas Queiroz Neto afirma que um componente suspeito é o propilenoglicol. Composto orgânico do álcool, ele é bastante abrasivo e costuma ser utilizado como conservante em produtos cosméticos.
Para ele, este foi o caso da consultora comercial Larissa Caroline que chegou ao consultório com uma dor terrível por queimadura na córnea. O especialista comenta que, segundo a paciente, a pomada modeladora escorreu para dentro do olho durante o banho. Por sorte, comenta, buscou por atendimento imediato. Quando chegou ao consultório estava com a visão bastante embaçada, embora a lesão na córnea tenha sido superficial. "Fizemos uma higienização completa e após o uso de colírios por cinco dias estava completamente recuperada".
O contato do propilenoglicol com a córnea pode causar abrasão superficial, mas também provocar cegueira temporária e até perda definitiva da visão, caso o atendimento médico não seja imediato.
O perigo dos conservantes
Embora os conservantes sejam importantes para evitar a proliferação de bactérias nas pomadas de cabelo, elas podem causar efeitos desastrosos. E além do propilenoglicol, é bom ficar de olho em outros ingredientes da composição.
"De acordo com o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), a associação do conservante MCI (metilcloroisotiazolinona) ao MI (metilsotiazolinona), deve ser evitada nas fórmulas. Isso porque, na Europa há anos é contraindicada a combinação desses dois conservantes em produtos não enxaguáveis, como é o caso das pomadas para cabelo. Por isso, vale a pena ler a composição antes de aplicar", salienta o profissional.
O oftalmologista também ressalta que 6 em cada 10 reações alérgicas têm manifestação simultânea nos olhos e provocam coceira intensa que pode deformar a córnea, lente externa do olho, causar vermelhidão, dor e diminuir a percepção visual. Não por acaso, a coceira é um dos sintomas citados pelas mulheres que tiveram problema com pomada modeladora. "Quem já tem alguma alergia deve redobrar a atenção com o uso", pontua.
Proteção dos olhos em primeiro lugar
A recomendação do especialista para quem aplicou recentemente é evitar sair a pé em dias de chuva, evitar banhos de piscina ou mar e lavar o cabelo para retirar o produto em um salão, ou em casa com a cabeça inclinada para trás, tomando todo cuidado para não respingar uma gota no olho.
"Mulheres que não aplicaram pomada no cabelo devem aguardar a avaliação dos produtos disponíveis no mercado pela ANVISA. Apesar da interdição, ainda é possível encontrar muitas ofertas na internet, mas uma queimadura na córnea pode ser irrecuperável. Não vale a pena arriscar", alerta Queiroz Neto.
Caso o produto penetre no olho o especialista ensina lavar abundantemente com água e aplicar compressas feitas com água fria e gaze. Não desaparecendo o desconforto, consulte um oftalmologista de sua confiança imediatamente para passar por avaliação e higienização profissional do olho. "Lesões mais graves na córnea precisam de acompanhamento médico e prescrição de colírios que variam de acordo com a gravidade de cada caso. Quanto mais rápido é o atendimento menores são as chances da lesão na córnea ser permanente", salienta.
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