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Estudo com vacina do HPV traz resultado histórico

Escócia não detectou nenhum caso de câncer cervical em mulheres vacinadas

27 jan 2024 - 14h02
(atualizado às 14h27)
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Mais um estudo mostra como a vacina contra o HPV é extremamente eficaz
Mais um estudo mostra como a vacina contra o HPV é extremamente eficaz
Foto: iStock / Jairo Bouer

Um estudo histórico realizado na Escócia mostra o impacto real das vacinas contra o papilomavírus humano (HPV): o país não detectou nenhum caso de câncer cervical em mulheres nascidas entre 1988 e 1996 que foram totalmente vacinadas contra o HPV entre as idades de 12 e 13 anos.

Muitos estudos anteriores já demonstraram que as vacinas contra o HPV são extremamente eficazes na prevenção do câncer cervical. No entanto, o estudo, publicado no Journal of the National Cancer Institute, é o primeiro a monitorar uma coorte nacional de mulheres por um período tão longo e não encontrar nenhum caso de câncer cervical.

O resultado prova que a vacina é extremamente eficaz, conforme comenta Kathleen Schmeler, professora de oncologia ginecológica na University of Texas, nos EUA, que não esteve envolvida na pesquisa. "Obviamente, é cedo. Estamos apenas começando a ver os primeiros dados do impacto da vacina porque leva muito tempo desde a aplicação da vacina até os efeitos", declara a especialista, em entrevista ao site STAT.

Os resultados destacam a importância de trabalhar para aumentar a aceitação da vacina contra o HPV. A Escócia introduziu a imunização rotineira nas escolas em 2008, e quase 90% dos alunos do quarto ano do ensino médio (equivalente ao 10º ano nos EUA) no ano letivo de 2022-2023 receberam pelo menos uma dose da vacina. Nos EUA, onde as vacinas contra o HPV não são administradas na escola, a adesão entre adolescentes de 13 a 17 anos é um pouco mais de 60%. No Brasil, a cobertura vacinal está abaixo de 80% para meninas, e abaixo de 60% para meninos. 

O estudo também destaca a importância do momento da vacinação: as meninas que não desenvolveram câncer foram vacinadas antes de se tornarem sexualmente ativas, como recomendam os especialistas. 

Mulheres nascidas entre 1988 e 1996

Os autores do estudo escocês monitoraram os registros de todas as mulheres nascidas entre 1988 e 1996 que eram elegíveis para a triagem de câncer, cerca de 450.000 mulheres. Desse grupo, 40.000 foram vacinadas entre as idades de 12 e 13 anos, e 124.000 receberam as vacinas aos 14 anos ou mais. As mulheres restantes, quase 300 mil, não foram vacinadas.

Não foram encontrados casos de câncer cervical entre as mulheres que foram vacinadas antes dos 14 anos, mesmo que tenham recebido apenas uma ou duas doses da vacina, em vez do protocolo completo de três doses.

As mulheres que receberam o protocolo de três doses entre as idades de 14 e 22 anos também se beneficiaram significativamente. Embora alguns casos de câncer cervical tenham sido registrados nesse grupo, a incidência (3,2 casos por 100.000 mulheres) foi duas vezes e meia menor do que entre as mulheres não vacinadas (8,4 casos por 100.000 mulheres).

"Fiquei muito surpreso que não houve casos" de câncer no grupo que recebeu vacinas antes dos 14 anos, disse Tim Palmer, ex-líder clínico para triagem cervical na Escócia e consultor de imunização contra o HPV na Public Health Scotland, que foi um dos principais autores do estudo. "Nesse grupo etário, eu esperava cerca de 15 a 17 por ano na Escócia - e não tivemos nenhum."

Novas vacinas trazem mais proteção 

Os tipos de vacina administrados às coortes monitoradas no estudo mudaram à medida que novas vacinas se tornaram disponíveis, abrangendo mais tipos de HPV. Até 2012, a vacina em uso era a bivalente Cervarix, direcionada ao HPV 16 e 18. Em seguida, a quadrivalente Gardasil foi administrada até 2023, quando a nonavalente Gardasil 9 foi introduzida.

É por isso que ainda é possível que casos de câncer cervical possam surgir mesmo em mulheres vacinadas, causados pelas cepas de HPV não visadas pelas vacinas mais antigas. 

As descobertas do estudo, contudo, não diminuem a necessidade de triagens contínuas para a detecção precoce de cânceres cervicais causados por tipos de HPV não previstos pela vacina bivalente original. 

O impacto da vacinação também foi maior entre mulheres de status socioeconômico mais baixo, que, de outra forma, relataram maiores incidências de câncer. 

Vale destacar que em novembro do ano passado, outro estudo de coorte realizado na Finlândia, liderado por Ville Pimenoff, do Instituto Karolinska, demonstrou a criação de uma imunidade de rebanho contra o HPV.  Antes disso, outra pesquisa apontou uma queda de 88% nos casos de câncer cervical na Suécia por causa da imunização. 

Jairo Bouer
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