A morte é uma separação provisória, diz vidente; entenda
Uma porta. É apenas isso a morte. A pessoa que sai do lado de cá, está, em situação inversa, entrando no lado de lá. Contudo, essa passagem, que pode parecer bem simples, é marcada por grandes mistérios de retificação material e transformação espiritual.
O corpo, moldura provisória de imperfeições, impedido de fazer a passagem, é abandonado. O espírito, finalmente liberto para os reordenamentos do carma, segue umbral adiante para o balanço místico das coisas vividas, sofridas, construídas.
Experiências, situações, pessoas, atitudes, escolhas, enfim todo o conjunto da vida que passou é avaliado. De acordo com essa revisão, acomodamentos são iniciados. Uma peça é movida no tabuleiro, mudando a situação total do jogo, abrindo novas possibilidades, fortalecendo ou fragilizando posições, recompensando, complicando posições inimigas, punindo injustiças.
Organizo tais ideias, que sei valerem para todas as pessoas, principalmente para confortar um amigo que, braço forte, depois de carregar longamente o filho portador de necessidades especiais, chegou à porta e, suave, com alento, num último abraço, despediu-se.
Para quem permaneceu desse lado, duas coisas importantes podem (e devem) ser lembradas. A primeira, mais simples e direta: foi separação provisória, muito tempo há de passar, mas o reencontro é certo, já está agendado.
A segunda, mais complexa, ligada aos arcanos místicos que tecem todas as relações no cosmo: a tarefa foi exaustiva? Desgastante? Tanto melhor. O retorno será mais intenso. Como na lavoura, o suor do trabalho rega o chão, aduba a semente, faz brotar os melhores frutos da terra. A uva mais doce vem da parreira que mais sofre.
Melhor também porque, meu amigo, assim como você o guardava aqui, ele agora, de lá, zela por você. Você olhou, cuidou, protegeu, acertou todas as pendências. Merecimento seu. Pode ficar tranquilo.
Quando for a tua vez de cruzar a porta, apenas não se assuste ao encontrar do lado de lá tudo invertido como no espelho. Você será a criança, pequeno, frágil, incapaz. Ele, o pai amoroso que, cheio de coragem, pegando no colo, apertando contra o peito, aninha tua cabeça pequena perto do coração gigante e retribui tudo que você fez por ele.
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