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A menina, o gato e os encontros da vida

15 jun 2018 - 09h00
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A menina, o gato e os encontros
A menina, o gato e os encontros
Foto: n_chetkova / iStock

A menina e o gato se encontraram. Sem saber (ou sequer suspeitar) da anterior existência um do outro, os dois vinham percorrendo seus caminhos e foi assim que, na contramão das probabilidades e das conspirações cósmicas, toparam.

A reciprocidade se deu embaixo de uma bruta chuva, daquela que dura dias, infiltra umidade nas paredes e deixa tudo borrado com um cinza triste.

Guarda-chuva aberto, capa e capuz, “ploft-ploft”, vinha a menina da escola, pés molhados atravessando aquele quarteirão comprido. Em sentido contrário, “pic-pic-pic”, recém abandonado, o gatinho, totalmente branco, seguia sem rumo, encharcado.

O bichinho era tão pequeno que a menina só o enxergou, entre as poças, quando estava perto o suficiente para escutar o miado fraco, súplica fina, rouca de dar dó.

Ao reconhecer a inesperada proximidade de outro ser vivo, a menina exibiu uma seqüência espontânea de reações: dilatou levemente as pupilas, estancou, olhou para baixo e sorriu.

O gato não demonstrou medo, adotou a menina antes de ser adotado por ela. Tremendo de frio, enrodilhou o tornozelo da menina, eriçou os pelos expulsando um pouco d’água, levantou o rosto.

Os olhares se encontram. Duas setas de diamante disparadas em direção oposta que cravam no mesmo momento o destino daqueles dois serzinhos.

Chegando em casa agarrado pelas duas mãos da menina, escorrendo, da cor do leite, Mingau foi o nome escolhido para batismo.

Por outros entardeceres chuvosos e manhãs de sol cresceram. A menina vaidosa penteia os longos cabelos, ele elegante repousa ao lado, afiados dentes como marfim. A menina estudiosa senta para fazer a lição, ele tranqüilo se acomoda na mesa. Com os nós dos dedos a menina bate, “toc-toc-toc”, na cabeça robusta. Ele gosta e se estica ronronando.

Como moram na porta vizinha, encontrei muitas vezes a menina e seu gato. Eles me fizeram entender a força que devemos investir para completar os acasos. Nas caminhadas da vida, não basta surgir aquele encontro almejado, é preciso agarrar com duas mãos, fortes e decididas. Agarrar, ou deixar-se agarrar — como sabiamente fez o Mingau.  

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.

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Fonte: Marina Gold
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