A modéstia: lição de verdade do mundo
Tahanashiro Tan, um dos mais respeitados professores do Zen no Japão Imperial. Foi preceptor de dois herdeiros do trono real, de sete grandes Príncipes, e de muitos jovens das famílias mais importantes ou mais humildes. Alunos seus? Todos notáveis por seu inabalável senso de retidão e justiça.
Na sua consagrada Escola do Vale do Vento – retirada no topo nevado de uma das mais remotas montanhas –, a tradição impunha que qualquer jovem aluno, fosse quem fosse, trabalhasse. Todos – do filho do imperador ao do camponês, do comandante militar ao do pequeno comerciante –, ao longo do ano, revezavam nos serviços práticos: cozinha, faxina, limpeza de latrinas, pastoreio das cabras, manutenção das estrebarias, labuta nos campos de arroz.
Tahanashiro Tan chamava isso de “lição da verdade do mundo”, base, segundo ele, imprescindível para a boa formação do ser humano: mais importante do que o futuro governante, general, juiz, médico, administrador, etc.
Sempre colocando como valor imbatível a modéstia, Tahanashiro Tan gostava, em seu íntimo, de saber que havia proporcionado para os maiores e mais poderosos samurais, sacerdotes, dirigentes, engenheiros, funcionários – além do próprio Imperador – uma inabalável formação apoiada na igualdade e no respeito pelo trabalho.
Ligada às mais profundas tradições, a Escola do Vale do Vento se estabelecia em torno de um sistema de crença baseado na noção do Aprimoramento do Homem, na ideia de que compartilhamos a riqueza de variedade do mundo com a tarefa de nos tornarmos melhores a cada momento.
Modelo da forma Oriental de pensar e se relacionar, a pedagogia de Tahanashiro Tan recebe forte influência da Espiritualidade. Sua proposta contrasta com a nossa, a Ocidental. Aristóteles, por exemplo, referência maior para nós do Ocidente, afirma: “A natureza fez todas as coisas especificamente para o bem do homem”. Na Escola do Vale do Vento a direção de formação era oposta: “O homem faz o bem ao respeitar todas as coisas da natureza”.
A modéstia, aceitação de nosso caráter subalterno e inferior diante da amplitude que nos envolve, faz da proposta de educar de Tahanashiro Tan um tesouro de virtude. Respeitar o trabalho é, antes de mais nada, respeitar o valor maior – o ser humano, o humano em cada ser.
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