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A paixão verdadeira pode ser tranquila? Entenda!

15 jun 2017 - 09h00
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Camões, nosso poeta maior, sabia que ela é fogo, mesmo que arda “sem se ver". Pois é, muitas vezes, perdendo a faceta alegre e brincalhona, a paixão machuca. Queima pra valer!

Em situação razoável, de tranquilidade e equilíbrio, a paixão costuma ser desafio tremendo. Ainda mais quando o par escolhido não quer ser companheiro, pois aproveita da fragilidade e entrega alheia, e aí a coisa engrossa: o corpo estranha, o coração sofre e o espírito padece.

Foto: svetikd / iStock

Romance e romantismo são bons, tanto que viciam. Como qualquer substância perigosamente agradável, "droga de prazer", precisa ser dosada e usada com cuidado e parcimônia. Convida ao destempero, ao desregramento e pode nos colocar num caminho de autodestruição. O apaixonado está sempre carente e se sentindo incompleto. O espírito, confuso, busca algo que não define bem, quer sempre outra realidade e situação.

Esse desafio precisa ser encarado de forma adulta pelos corações pulsantes e cálidos: amores novelescos – repletos de lágrimas, violinos e caixas de chocolate –, sugam mais energia do que repõem. Não sou totalmente cética em aceitar que, vez ou outra, muito eventualmente (segundo minhas observações), um casal possa atravessar longo período em clima de "lua de mel". Comum não é. Dificilmente o cotidiano, correnteza forte, não se encarrega de naufragar o barquinho das idealizações.

Sou pessimista? De maneira alguma. Desses naufrágios afloram verdades mais intensas. Façamos justiça à vida que prossegue, mesmo depois das rosas terem murchado no vaso; reconheçamos a importância das banalidades que se sobrepõem aos ínfimos momentos exageradamente estéticos e poéticos. Interesso-me e aprecio o exagero romântico, na medida em que dele pode restar (acontece comumente) uma lição de crescimento.

O desejo, o sonho, a festa, a fantasia. Efemeridades que deságuam em duas canaletas. O da generosidade, marca positiva e abundante que nos acompanhará – recheando de boas lembranças e memórias encantadas –, por muito tempo, vida afora. E o que deve ser evitado, o da tristeza, caminho que azeda em vingança destrutiva doçura antiga dos apaixonados, ódio e desrespeito.

Sei que as águas da paixão verdadeira não são nunca tranquilas. Todavia, incomoda-me o número enorme de pessoas (sobretudo mulheres, por determinações de ordem psicológica e cultural) que mergulham insanamente. Com alguma dose de sangue frio e incentivo afundamos na tranquilidade límpida da piscina. Descidas maiores revelam convicção e confiança na tranquilidade turquesa que nos acolhe. Isso é entrega – outra coisa, bem diferente, é o comportamento doentio de afundar até o sacrifício. Descida sem volta.

Cada impulso com os braços, cada batida de pernas, cada metro submergido precisa ser correspondido. Se seu companheiro ou companheira não quer compartilhar contigo o tanque de oxigênio, é hora de aprumar e emergir, evitar sufocar. Escolha bem com quem nadar. Evite aquela triste situação de tentar, com a maior boa vontade, salvar quem está se afogando e acabar, desesperadamente arrastado, no fundo.

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