Adeus, Velho Chico!
29 de junho, alta madrugada. Na sala, iluminada por uma lâmpada fraquinha, estava o velho médium, de branco, imaculado, cândido. Sentado aguardava tranquilo, sereno. Ao redor o barulho foi, aos poucos, diminuindo, diminuindo, tudo ficando quieto até descer silêncio total e completo.
Em sua cabeça surgiu um de seus pensamentos, uma ideia simples e poderosa: “se tiver que amar, ame hoje”. Neste exato momento fechou os olhos, inspirou fundo e escutou uma voz macia chamando seu nome inteiro – claro, completo, sílaba por sílaba.
Ao longo de sua vida, produtiva, o velho médium teve muitas oportunidades de trabalhar situações como aquela, limite, fronteira entre aqui e lá. Sabia, portanto, perfeitamente bem de onde vinha e para onde se dirigia. Naquele momento, ao ouvir seu nome indicado, estava inteiramente pronto para se afastar do necessário, inteiramente pronto para se aproximar do necessário.
Levantou. Uma impressão estranha tomou conta, como se o corpo, de baixo para cima – pernas, tronco, braços, cabeça –, fosse, devagar, aos poucos, perdendo o peso. Soltou o ar aliviado, deixando para trás a carga que seu sagrado corpo físico representou nos últimos anos (e, por que não? — agora o sabia — sempre...).
Seguiu pensando na força do amor. Lembrou-se de sua cidade, seu trabalho, pessoas que nele confiaram. Tantas e tantas coisas. A luz ao redor foi ficando mais potente, ganhando uma intensidade amarela, uma gema de ovo que envolvia calidamente.
Teria de exercer seu livre arbítrio perante aquela luz e aquele calor. Sentiu a responsabilidade de sua escolha. Seguisse por ali e estaria cumprida sua missão (ela realmente já se cumprira?). Por isso, o que viria a seguir dependia de sua própria decisão.
Refletiu sobre a escolha iminente e sobre o próprio peso dessa escolha. Lembrou-se de tanta gente, anônimos e, ao mesmo tempo, conhecidos. Todos os dias as visitas, os acolhimentos, as tarefas. No fundo amarelo-gema viu-se sentado à sua mesa, cotovelo apoiado, mão na testa. Da folha de papel que tinha diante de si emanava um clarão leve, rosa-pálido, um amanhecer em Minas Gerais, um novo dia que vinha, 30 de junho.
Era um convite em tom de madrigal? Abaixou a cabeça até a testa tocar na folha de papel, sentiu-se puxado, mergulhou adentro como se atravessasse uma porta. Do outro lado, atmosfera agradável, cores frescas, tudo era alentador: eterno, numinoso. Com grande emoção viu um céu azul que crescia contornando tudo, ocupando todos os lados.
Ele fizera opção. Lá dentro, seus mentores o esperavam, sorrindo. Emmanuel abriu os braços:
— Vem, amigo, vem!
E ele, comovido e curioso:
— O que se faz por aqui?
— Ah, muito. Mas, antes de mais nada, para você um merecido período de descanso.
O médium reagiu sorrindo, animado:
— Que bom! Quer dizer que tem muito trabalho para fazer. Como você sabe, eu descanso trabalhando. Vamos lá!...
Já estava pronto para seguir, como de costume, nos auxiliando.
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