Cuidar de si mesmo é questão de sobrevivência, diz vidente
É comum que uma espiritualidade servil precise ser educada, limitada. Muita gente espalhada por aí se afunda nesse problema e não consegue resolver, achar a saída. Interessante porque não se trata de solução complicada demais, de difícil compreensão, inalcançável. Ao contrário, basta afirmar o que temos de mais íntimo e pessoal: nossa força de sobrevivência.
Sentada ali na minha frente, abatida, ela era o retrato da fragilidade. Esotericamente eu a via – que pena! – amarrada ao tronco, sendo punida por chibatadas. E era mesmo isso que, simbolicamente, acontecia com ela.
“Puxa”, disse-lhe, “aos poucos, devagar, você foi fazendo tudo para todos. Família grande, seu marido e os três filhos. Quando viu já não tinha força ou tempo, vontade ou energia para fazer qualquer coisinha para você”.
Ela assentiu com a maior tranquilidade, o rosto sereno, retrato da resignação. Ao mesmo tempo, eu a olhava, de num outro plano de percepção, vendo lágrimas, boca crispada, costas lanhadas pelo couro da punição.
“Posso perceber como se trata de algo forte, componente amarrado do seu carma”, comentei na expectativa de movimentar energias da Sabedoria Universal, dar um empurrão forte no sentido de libertá-la, melhorar as condições de vida diante de cenário tão assustador.
“Forte mesmo. Faço a comida com o maior carinho. Quando tem algo especial, eles atacam, acabam com tudo, não falam nem obrigado ou deixam um bocadinho. O que me entristece, claro, não é o fato de não comer, é não me agradecerem, não reconhecerem o meu esforço ou retribuírem sequer um pouquinho do meu amor”.
Mantendo a tranquilidade no corpo, mão, gestos, postura e expressão facial, por dentro eu tremia. Que exemplo de mulher sentada na minha frente, equilibrada, digna, altiva. Na minha sensibilidade empática ela desfalecera, seu pescoço havia tombado, respirava com dificuldade, o corpo sangrava coberto de feridas.
Era pior do que eu avaliara num primeiro momento. Ela não tinha deixado episodicamente de cuidar de si, ela tinha (mais intenso) perdido a própria vontade de cuidar de si, não sabia mais (ainda mais intenso) como cuidar de si.
Como um guarda-vidas que sabe que um resgate distante da praia, em águas profundas, é mais trabalhoso, prendi a boia às costas e pulei na água ciente de que meus músculos iriam trabalhar dobrado, nadar bastante.
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