Da simplicidade da aldeia
Isolada entre morros irregulares, batida por ventos inclementes, uma pequena aldeia encravada num lugar que não existe em nenhum mapa. Não mais do que um punhado de famílias modestas vivendo lado a lado.
Não há estradas, não há edifícios públicos, não há templos. A pouca chuva, armazenada em cisternas subterrâneas, serve toda a população — os moradores compartilhando o único poço de onde tiram água.
Todos ali camponeses, em sua maioria analfabetos, trabalhadores da agricultura nos campos ou do pastoreio de pequenos rebanhos.
As casas são simples, apenas um único cômodo sem janelas. Lá dentro uma parede fina ou panos pendurados dividem o ambiente em dois — um espaço para a família, outro para os animais.
Casas brancas, construídas com barro caiado, coroadas com um terraço plano onde as pessoas, de dia, espalham a roupa para secar e, de noite, se reúnem para rezar. No verão, opôs o crepúsculo, fazem ali a refeição, desenrolam suas esteiras e dormem no chão empoeirado.
Ao lado, um pátio ou, com sorte, um pequeno pedaço de terra para cultivar legumes — cuidados com esmero e carinho.
O conjunto é de um lar de cultivadores da terra. Gente que planta seu sustento — trigo, cevada, aveia — e cria alguns animais.
O estrume recolhido dos rebanhos alimenta a terra, que por sua vez alimenta os homens que, em seguida, trata dos escassos animais. Autossuficiência é a marca.
Pois, justamente esse lugarejo que tinha tudo para permanecer desconhecido. Esse lugarejo não mencionado em nenhuma fonte da época — nem na Bíblia, nem no Talmude, nem no Midrash, nem em Flávio Josefo —, irrelevante na encosta de um morro obscuro, pequeno e afastado, pobre e isolado, acolheu em sua simplicidade, acalentou a infância e deu condições para ali crescer um filho ilustre — amigo dos vizinhos camponeses, pastores e pescadores.
Dali também, mais tarde, ele ganhou a sua alcunha, ficando conhecido em toda a sua vida simplesmente como “o Nazareno”.
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