Dia dos professores
Tive muitos professores na vida, inteligentes. Mestre, sábio, apenas um, uma rocha, como seu nome, Rocha. Nos dias que antecedem a data tão significativa para ele, dia 15 de outubro, Dia dos Professores, minha memória, em vai-e-vem, lembra intensa e imensamente das lições.
“Como está o teu copo?”, perguntou-me certa feita. Soou estranho. Interagimos e fui percebendo que ele mostrava, na discussão, que a felicidade (sim, ela, sempre ela!) não pode ser um copo transbordante, cheio até a boca, uma cornucópia da abundância vertendo coisas e mais coisas boas para todos os lados. Não, definitivamente a vida não era assim.
Mestre Rocha, em tardes proveitosas, desenvolveu comigo a famosa e muito conhecida dinâmica de que o importante (e definitivo) não é como o copo está, mas como aceitamos que ele esteja.
Mestre Rocha, exímio professor, numa série de sábias abordagens da realidade – religiões em geral (hinduísmo, judaísmo, cristianismo, islamismo) e ampla gama de perspectivas filosóficas (epicurismo, estoicismo, para ficarmos com as mais destacadas e, possivelmente, as mais fortes e consoladoras) – muito me explicou sobre como enfrentar os desafios.
Como poderia resumir sua forma de encarar os desafios? Simples assim: não aceitando o mantra moderno do “tudo azul, tudo positivo”, desdenhando do brilho ofuscante e enganoso do “sucesso”, indicando outras alternativas, mais legítimas e autênticas, caminhos para uma elevação verdadeira: “O contentamento nasce da aprendizagem do fracasso”, ensinava, “Inevitavelmente somos seres do fracasso e, por isso mesmo, precisamos saber lidar com ele e organizar a nossa vida em função dessa verdade imutável”. Acrescento: gostemos ou não.
É isso mesmo, estamos olhando para a vida de forma equivocada, deixando que um sonho (aliás, na maioria das vezes, chinfrim e edulcorado) tome o lugar da nossa poderosa capacidade individual, de espantosa adaptabilidade e resiliência. Acreditar demasiado no sonho vai nos enfraquecendo, minando a possibilidade de seguirmos o único caminho possível para encontrar sentido na vida.
Que fazer? Bem, cada um por si deve examinar sua interioridade e avaliar quanto investe no “sucesso”, geralmente artificial e imposto de fora. A tarefa é admitir que o copo meio cheio contém precioso líquido que não deve ser desdenhado. Eis o ensinamento de um grande professor. Acalentadora lembrança nessa data tão especial.
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