Fraqueza espiritual gera consumismo e arrependimento, diz vidente
Os fabulosos místicos das Escolas de Sabedoria do passado deixavam claro, por ações e palavras, que a trajetória para elevar era a de depuração. Iam, no real e no simbólico, simplificando gradativamente, mais e mais, as suas vidas e interesses, descarnando tudo de inútil até encontro com a substância essencial e irredutível, o esqueleto do mistério, o tutano das energias e forças esotéricas.
Bonita história a de certos iogues que vão se afastando dos excessos da comida conseguem aprender a ingerir apenas o estritamente necessário para a manutenção fisiológica da vida encarnada, se desprendem dos apetites e, mais importante, das fantasias do apetite. Quando maduros, plenamente conscientes de suas verdadeiras necessidades, comem pouco mais do que uma tigela de arroz por dia e, algumas vezes, para afinar ainda mais seu diálogo espiritual com as coisas, contentam-se somente em aspirar o aroma do cereal fumegando.
Acho que nós, encharcados de abundância material por todos os lados, incapazes de aquietarmos nossos desejos, ficaríamos loucos de vontade de encher a boca com os grãozinhos brancos, mastigar a consistência macia, desfrutar o prazer e engolir a massa saborosa.
É para nós imensamente difícil equilibrar as trocas que efetuamos com a materialidade. Nunca sabemos ao certo quantas tigelas (e de quais acepipes) precisamos para viver. Nossa desinformação se traduz em insegurança e atacamos as coisas como se o sol não fosse nascer na manhã seguinte.
Não somos iogues ou místicos treinados em disciplinas libertadoras. Mas, mesmo assim, podemos aliviar o peso excessivo que suportamos nos ombros com algumas decisões simples. A primeira e mais importante delas é fazer a pergunta definitiva: “Preciso disso agora?” Atenção para o “agora”.
Passeando com uma amiga pelos corredores de um shopping presenciei um ataque de compulsão consumista. Primeiro foi um sapato. Ela comprou, sem se perguntar quantos bastante parecidos tinha no armário, para usar com tal e qual roupa. Depois foi a vez do perfume, a mesma coisa aconteceu. Um docinho para acompanhar o café era pouco, indecisa pediu o de creme e o de chocolate. Pagando o estacionamento para irmos embora veio o arrependimento, três deles, arrependimentos.
Percebi ali, mais uma vez e inquestionavelmente, que precisamos urgente depurar mais. Secar nossa relação com o mundo e suas aparências provisórias. Precisamos racionalizar o valor – e os enganos possíveis – que acompanham cada troca. Precisamos deixar de projetar nossas grandes fraquezas – tão humanas, demasiadamente humanas –, fraquezas que precisam ser trabalhadas em profundidade, responsáveis pelas direções e avanços do nosso progresso pela senda estreita da espiritualidade, na fatura mensal do cartão de crédito.
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