"Há mais para se dedicar na vida do que ganhar milhões", diz vidente
Você também notou como estamos exageradamente ansiosos com nossa própria importância? Num estado generalizado de inquietação e ressentimento? Nada é bom o bastante? Sempre queremos mais? Por que tanto descontentamento, tanta preocupação?
Tenho andado temerosa com tudo isso. Um desgosto pela vida que às vezes nos engessa mesmo em plena calma, sem explicação plausível, ligado a fantasmas e fantasias de sucesso que nós mesmos criamos e alimentamos em sua voracidade perigosa e assustadora.
A questão é que perdemos o pé em julgar nossas necessidades. Expectativas artificiais fazem-nos acreditar que tudo é essencial para provar nossas conquistas: casa, carro, roupa e tantas coisas devem ser novas, maiores, melhores. Adquirimos o mau hábito de não nos contentarmos com nenhum prazer.
A atmosfera geral e as pressões vão nesse sentido: o parâmetro de uma vida bem sucedida é a riqueza acumulada e ostentada. Presa a uma aritmética persuasiva assim – medíocre, inflexível, sombria e cruel – a vida de tantas pessoas aparenta ser uma falha, um fracasso, uma derrota sem sentido ou propósito.
Infelizmente essa concepção se torna mais forte a cada dia, uma espécie de mantra único que todos repetem. Ela se opõe e combate qualquer outra visão de mundo. Luta desesperadamente para afirmar sua exclusividade. Apaga tudo que é diferente dela: inúmeras possibilidades de felicidade, bem-estar, força, potencial, inspiração, fascinação, desejo, benefício, convicção, prêmio, conforto e satisfação que sequer são aventadas. É perturbador.
Há mais para se dedicar na vida do que ganhar milhões. Outros instrumentos estão na orquestra e podem participar da sinfonia. Outros ideais e apetites estão facultados e podem ser úteis em amparar nossa autoestima e a qualidade das nossas trajetórias.
Sabemos com facilidade o que é ser amigo do dinheiro e das posses materiais, mas o mesmo pode ser dito em relação à riqueza espiritual? Acho estúpido esquecer as ofertas e consolações desse caminho: a distinção entre riqueza e virtude, a lembrança de que há outras coisas além do status e as pessoas devem ser avaliadas pela sua bondade e não (exclusivamente) pela sua importância.
Antagônico à lógica da acumulação de posses, o cultivo espiritual permite uma conexão profunda com todos os seres e coisas ao redor. Distante de ambições ordinárias, sua visão da vida, seus valores e bênçãos desequilibram qualquer equação mesquinha. No acolhimento, no amor ao próximo, na caridade e na humildade, sua voz ressoa bem alta, sempre consoladora.
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