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Morreu o gato, mas não o amigo, diz vidente; entenda

15 jul 2013 - 17h38
(atualizado às 17h38)
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Foto: Getty Images

Ele aproveitou bem todas as sete vidas que tinha, mas uma oitava não tinha, não: morreu o Mingau – o gato mais gato,  imensa bola de pelos brancos como a neve, cabeça dura como coco, sossegado, hierático. Ele veio para tapar um buraco no coração da menininha. Quando estava entrando nos cinco anos, se apegou ao papagaio que o pai deu de presente. A avezinha comia na mão e vivia solta até, depois de dois meses na casa, já maior, sair voando sobre os telhados de um populoso bairro da cidade. Onde pousou? Mistério que nunca foi solucionado.

A menininha sofreu, gostava do emplumado verde, barulhento e agitado. Para curar o vazio, a mãe presenteou com a bolinha de tênis alva e felpuda como as toalhas desses hotéis de várias estrelas. O bichano era o oposto perfeito do pássaro. Não se sacudia gratuitamente. Contrito, guardava monástico silêncio. Seus gestos de príncipe, sobre o pisar almofadado dos discretos, eram alongados. Pantera em miniatura, apenas as pupilas bem abertas dançavam acompanhando fixas tudo que a menininha fazia.

Na primeira semana já estavam acostumados um ao outro. No colchão se encolhiam para ceder espaço. Com a ponta dos dedos ela o acariciava entre as orelhas, no topo da cabeça; com o flanco de luxuosa pelagem o felino retribuía, agradando o pé e o tornozelo da menininha.

Os anos se passaram e eles cresceram. Para ela veio a escola e uma vertiginosa sucessão de fases e brincadeiras diferentes. Uma série de experiências foi acumulada e deixaram as mãos grandes, aquelas que carregaram a caixa de madeira – um porta qualquer coisa (badulaques, fotos, maquiagens) – escolhida por ela para enterrar, no canteiro do fundo do quintal, o companheiro de tantas aventuras, mais da imaginação do que da ação (coisa típica de gato, oposto aos cães, sempre retraído, pouco lambão, com uma espiritualidade enrolada para dentro).

Partiu o Mingau. Agora moça, sua dona disse adeus, sabendo que ele, com suas habilidades egípcias, levaria para outras esferas as poderosas energias de tudo de bom que tinham compartilhado. Sua tristeza se abrandou entendendo que não perdia nada, o amigo permaneceria ali, espiritualmente, no inevitável dobrar da esquina.

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.

Fonte: Marina Gold
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