Não esqueça seu anjo
Mês passado estive no Rio de Janeiro e, num importante Centro Cultural, embevecida, contemplei os desenhos e aquarelas do pintor suíço Paul Klee. Gostei, especialmente, da série dos anjos, uns vinte, cada um mais intenso e maravilhoso do que outro.
Ah, os anjos! Enormes criaturas celestiais, reverenciados por muitas religiões, aparecem, em geral, como portadores de grandes e acolhedoras asas imaculadas, abrigo seguro e aconchegante para nossa humana, caída e terrena a fragilidade.
Penso sim nessas asas como abraço mais do que meio de locomoção. Não acho que os anjos precisem delas para voar, pois, seres iluminados, diáfanos, leves, se movimentam na fluidez.
Para que serviriam, então? Penso que os anjos empregam suas asas como uma espécie de couraça espiritual, escudo frente necessidades e emergências. Explico melhor. Elas servem para proteger, envolver pessoas e assim amparar. Diante da situação difícil, perigosa, voa o anjo e, com a incrível força das asas, cobre a pessoa, defendendo dos riscos, ameaças, perigos.
Contemplando uma das criações de Klee, sensível e misteriosa, intitulada Anjo Esquecido, refleti sobre essa questão e concluí: os procedimentos angelicais funcionam, todavia dependerão do próprio protegido que precisa acumular méritos pessoais para que as asas se fechem, cubram, ajudem de verdade.
Pessoas de comportamento e atitude fora das expectativas afastam, envergonhado, seus anjos de guarda, tornando-se vulneráveis, incapazes de contar com eles para defender de algumas coisas encrencadas que podem ocorrer a qualquer momento. Precisam do cobertor das asas, mas o anjo, recolhido (melancólico, como retrata Klee), está empregando seu escudo para cobrir os olhos (baixos, como retrata Klee), ocultando sua dor (triste, como retrata Klee).
Lição? Respeitar nosso anjo, nosso aliado, nosso parceiro, nosso poderoso auxiliar. Não ultrajar, não transgredir, não afrontar, não melindrar. Com o perdão do trocadilho, “olhe-o olho no olho” e ele retribui, estendendo o abraço de suas asas.
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