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Nossas ações indicam o futuro que merecemos, afirma vidente

A vida que há de vir é reflexo de como tratamos as pessoas

28 set 2015 - 18h08
(atualizado em 19/10/2015 às 14h27)
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Foto: iStock

“Insatisfeito. Super insatisfeito. Mega insatisfeito”. Assim ela me explicou. O marido nunca se contentava. Não havia outra possibilidade senão uma dessas. Para ele nada estava cem por cento. Isso ou aquilo faltando, errado, torto. Sempre um probleminha, uma imperfeição.

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Menos disso, mais daquilo. Para cá, para lá. Seria melhor ao contrário. Atrasado um minuto. Faltou um tiquinho. Sobrou uma gota. Não tem jeito. Bastava apenas. Todo capricho era pouco, inútil. O rosário de queixas nunca acabava.

Ela de desdobrava. Prestava atenção. Cuidava de cada detalhe. Guardava esmero em tudo. Fazia o melhor. O que podia e o que não podia. Adiantava pouco. Sempre algo, quando chegava a hora violenta dele apreciar, não prestava.

Durante muito tempo, tempo sofrido, marcado pelo desrespeito, ela pensava que era a força multifacetada do Universo conspirando contra. Depois, aos poucos, foi percebendo que não era bem assim. Lá na frente, acabou entendendo que não era ela, era ele. Ele que, daquela maneira – aproveitando tanto frágil amor que ela dedicava –, tremendamente injusto, maldoso, se sobrepunha.

A vida, o cotidiano, escolhas, gostos, comentários, as coisas dela, nada podia ser avaliado como sequer “razoável” – uma monstruosidade. A comida, a casa, a roupa, a tarefa com os filhos, o passeio, a diversão, o programa de TV. Quantas fontes de sofrimento, angústia, medo, anulação.

A torta de maçã, carinho do trabalho bem feito, cheirosa, dourada, era jogada no chão. A camisa de algodão, branca como leite, lisa, alinhada, era amarrotada de novo no cesto de roupa suja. Explicações nunca eram dadas. Um simples pedido fazia a casa tremer, fúria aos gritos.

Estávamos na reta final de nosso contato, faltava menos de dez minutos para nossa consulta acabar. Meu trabalho tinha sido simples: o lenhador que abate a árvore apodrecida dispende pouca força. Finalizava a limpeza do terreno quando tropecei num último pedaço carcomido de raiz: “Ele vai ficar bem? Vai ter a vida que sempre diz merecer?” – ela me perguntou num último sobressalto.

Tive abruptamente uma clarividência intensa. Ele, abandonado, deprimido, solitário, numa sala emporcalhada, comendo comida congelada da pior qualidade. Com o semblante enojado de quem acompanha um caminhão de lixo se afastando, emendei: “Pode ficar tranquila. Exatamente a tal vida que sempre diz merecer!”

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.

Fonte: Especial para Terra
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