Os perigos do casamento
“Cuidado Casamento”. Uma placa assim, parecida com àquelas que ficam na porta das escolas, deveria sinalizar cada acesso dessa rodovia perigosa. Pista simples, mão dupla, muitas curvas, travessia de pedestres, animais na pista, buracos aqui e ali; trechos sujeitos à neblina, sem acostamento, de rolamento irregular. Tantos riscos entre a viagem e um possível acidente.
Quando eu era jovem, filhos pequenos, vibrávamos assistindo dois seriados famosos da TV que mostravam peripécias e aventuras de policiais rodoviários, destemidos do asfalto: Vigilante Rodoviário e Chips. Atendendo, desde então, uma enorme clientela que trazia conflitos matrimoniais, eu passei a me sentir como aqueles bravos motociclistas.
Só faltavam as botas altas e almofadadas para ser a perfeita patrulheira rodoviária, zumbindo para cima e para baixo, rodando milhas e milhas, fiscalizando o trânsito – educando, organizando, protegendo e, nos momentos de aflição, socorrendo. Vi de tudo: coisas boas, coisas más, felizes, sofridas, alegres, tristes, generosas, cruéis.
Como dizem os caminhoneiros: “A estrada é uma vida”. Indiquei caminho para peruas familiares cheias de crianças sorrindo em passeio, notei os cabelos esvoaçantes do jovem casal que passava rápido no conversível. O moço que cochilou e desceu a ribanceira (felizmente nada além de perda material). Trombadas de monte: esbarrões, raspões, encontrões, colisões, batidas feias, graves, tragédias – frontal de ônibus contra ônibus, atropelamento de criança. Tudo.
O que aprendi? O inesperado está por toda parte, espalhado pelos caminhos do mundão. Dou, para ilustrar, dois exemplos que chamam a atenção pelo caráter concorrente.
Ele e ela (minha cliente) toparam a viagem. Vinham de namoro longo. Tudo um sossego, um doce, um mel. Sem dúvida o retrato brilhante e nítido do amor. Partiram. Todos pensaram: “vão seguir longo curso, muito chão”. Eu, que tinha verificado um par dos pneus, sabia que não seria assim. Na primeira curva alguma instabilidade. Na seguinte derraparam feio. Na outra, capotamento.
Na mesma altura, vinha pela mesma pista, em sentido contrário, outro casal. Ele (meu cliente) e ela estavam unidos, menos pelo coração e mais, como se fala, “por conveniência”. O carro anterior, dando cambalhotas, quase os atingiu. Ele conseguiu, com perícia, desviar por um triz. Acelerou forte e foram embora. Sei que estão lá, lá longe e seguem rodando.
É, nessa “Estrada da Vida” (ê, Milionário e José Rico), são surpreendentes as rotas e direções, quem parte e quem fica, quem se acha e quem se perde. Eu que o diga...
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