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Para vidente, cães podem ajudar a apreciar a vida; entenda

16 fev 2014 - 15h28
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Foto: Getty Images

Moro num apartamento em andar bastante alto. Espiando pela janela, lá embaixo, as pessoas parecem formiguinhas. Para maior nitidez, preciso descer à rua, caminhar na praça, ver os passantes. Funciona como um laboratório para que eu possa entender melhor e analisar, ao sabor das sincronicidades, a temperatura e força espiritual do nosso tempo, indagação sempre desafiadora. 

São dias de intenso calor, a natureza vibrando. Manhã admirável, sol iluminando as folhas. Contrasta com esse cenário muito quente a pressa das gentes, muita perambulação. Seres humanos para lá e para cá, pessoas ensimesmadas; muito suor e pouca receptividade, pressa e preocupação. 

Minha atenção é capturada pela garota com o cãozinho, um poodle todo peludinho, pequeno. Eles não estão tranquilos. O passeio não é afável. Visivelmente apressada, a dona puxa pela coleira, obstinada, abreviando o passeio ao ar-livre. Cruza por mim ligeira, impaciente. Língua de fora, o bicho tenta acompanhar, tropeçando, as patinhas vibrando como num desenho animado. 

Passam voando. A cena me marca. Assim estão as coisas: acidentadas, descentradas, afobadas! Cozinhar, conversar, fazer exercícios, conviver, tarefas que tornam a vida mais genuína e que precisam ser sorvidas aos pouquinhos. Ninguém bebe acelerado, aos goles, uma taça vinho. Para apreciar uma música precisamos ouvir as notas, sem atropelo. É preciso correr menos, afrontar essa perda de parâmetros, encontrar verdadeiras razões. Encaixar adequadamente nas propostas, sentir o contorno, o andamento, o ritmo. 

Um pouco aturdida com a intensidade dos meus pensamentos, olhei para o outro lado e vi uma cena complementar. Um sem-teto esticado numa sombra, rodeado por seus dois cães, vira-latas espertos, todos folgados, brincando felizes. 

Relembro assim que hoje em dia existe uma necessidade grande de coisas que signifiquem ligação com o mundo, coisas que alimentem a alma e permitam apreciar a vida. Os cães podem fazer essa ligação, mas, quando a batida natural não é respeitada, infelizmente, a alma segue faminta. Faminta e aflita.

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.

Fonte: Especial para Terra
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