Perdoar é a chave para libertar o amor que não vai bem
Se todo caso de amor é uma obra de arte, pude contemplar muitas vezes a Mona Lisa – inspirada, especial, única –, a obra-prima das obras-primas.
No meu consultório é comum encontrá-la: experiência de paixão aflorada, intensa, fértil. Quando correspondida e vai bem, ótimo! Quando não, é preciso derivá-la, com todo o imprevisível dos sentimentos, para paz e tranquilidade.
É tarefa árdua, mas necessária. Falo de empregar a última gota de amor – tão grande amor, fonte outrora transbordante –, justamente para perdoar o desamor. A força da mão que, até então agarrando com afinco poderoso, se abre para soltar, permitir que escape, deixar seguir.
Ao explicar isso, o meu coração, como o dela, sofria. Mesmo fraquinha, abatida, conseguiu cruzar (ainda bem!), com minha ajuda, o ponto de virada: seu amor dobrou-se sobre si mesmo, todo desejo tornou-se perdão.
Foi um momento forte estar ali ao lado dela naquele equador perfeito e absoluto. Meridional se tornou setentrional. Setentrional se tornou meridional. As estrelas no firmamento deixaram de desfilar sobre nossas cabeças, passaram a girar ao redor em dança cósmica.
Que ousado, convenhamos, pedir para o amor ser suficiente o bastante a ponto de superar a si mesmo – magnânimo, transcendente. Como curar a intoxicação com o próprio veneno? Como amainar no fogo a queimadura?
Trabalhoso claro. Mas não havia outra solução. Não bastava apenas escalar o Evereste. Era preciso galgar a mais alta das montanhas com um banquinho na mochila: só para, lá no topo, subindo nele, mais alto chegar.
Nos noventa minutos da nossa consulta, o tempo correu apenas para a mecânica dos ponteiros do relógio. Lado a lado, nosso compromisso e tarefa, estavam ligadas a outras designações.
Das dores do amor, passamos a lidar com as quintessências do amor. Amor que, a partir dali, poderia ser tudo e nada, oposto e contrário, frente e verso, reverso e inverso. Corpo e alma, espelho e imagem, jogo de reflexos em dialética completa – infinito, infinitos.
Para ajudar, ciclone adentro, segurei na mão dela. Idas e voltas. Presentes e ausentes. Liberdades e aprisionamentos. Despedidas e reencontros. Achados e perdidos. Origens e alvos. Saldos e débitos. Tudo girou enfurecidamente. Que palavras e metáforas poderiam poetizar tais e tantos mistérios do coração?
Quando tudo se acalmou aquele estranho amor, antes corrente, se rompeu em superação. O racional e o emotivo se ajustaram. Interrogações a afirmações, embaralhadas, se esclareceram no importante intervalo entre o “Eu quero” e o “Quem eu sou?”
Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.
Veja também