Vidente: amor é território para devorar, não ciscar
Trânsito louco. Uma batidinha. Vou ao funileiro. Encanta a habilidade em lidar com entortados: amassados, retorcidos, pequenos, grandes, para cá ou para lá. Sou como ele, mas não remendo portas ou capôs, trabalho nos corações.
São tantos anos de consertos. Martelo, massa, lixa, tinta. Quanta tarefa o tal cupido me dá. Tirei lições gerais? Claro que sim: padrões, modelos, sistemas que se repetem e se configuram como regra fortemente coletivizada. Uma delas se destaca? Sim! Falemos dela, analisando o flagelo de frente.
Em geral a questão do amor, quando rebenta a doer e chega até meu consultório – para-choque afundado, retrovisor pendurado, lataria destruída – deriva da mais comum das causas: falta de autoestima.
Com que incrível facilidade as pessoas acabam se comportando, nas coisas da paixão e do coração, como as galinhas. Deveriam ser panteras, cheias de fome, ávidas por enormes talhos de carne romântica, mas, abaladas por uma enorme carência de confiança, aceitam o insignificante da migalha, a titica da quirela, o pouco do grão – atirado longe, espalhado aqui e ali, sofrido, miserável.
Relação de amor que não equilibre a balança não serve, não funciona; é falácia, exploração, maldade, injustiça, punição. Viver sem a liberdade de ser, numa situação de meias-medidas, é embarcar numa viagem apavorante rumo ao desconhecido.
Na harmonia amorosa a felicidade vem de uma sintonia ligada ao duplo sacrifício. Mas, infelizmente, hoje em dia, essa mensagem parece estar frequentemente soterrada, perdida no ruído de tanta falsidade.
Claro que entendo e valorizo o perdão como um dos mais nobres atos possíveis de sacrifício, altivo, magnânimo, poderoso. O que, todavia, não pode ocorrer é a repetição e repetição exaustiva e desequilibrada do mesmo. Sei bem o alto preço cobrado pelo perdão sem fim, o perdão para um eu que promete e promete sem nunca se elevar ao nós.
O perdão, como nos ensina o amadurecimento espiritual, só pode ser dado em certas condições. Moeda rara não deve ser gasta abusivamente pelo coração. Se o perdoado não reconhece seu erro – e reconhecer não é meramente uma atitude cognitiva –, não trabalha na penitência e reparação, a coisa fica por isso mesmo, a vítima se mostra pronta para ser abusada de novo.
Vamos falar com justeza: se você se identifica com essa situação, repense, busque forças, respeite (em primeiro lugar) os teus compromissos com você mesmo, procure reparos para os acidentes sofridos.
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