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Vidente compartilha lições de força e filosofia

3 ago 2016 - 13h04
(atualizado em 11/8/2016 às 19h15)
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No sistema de som da carrocinha, que recolhia lixo e entulho pelas ruas da grande cidade, só coisa animada: arrocha, tecnobrega, axé e o velho e bom forró. Ao lado, segurando uma embalagem redonda de isopor, o dono daquela verdadeira discoteca sobre rodas, tirava sua merecida hora de almoço.

Comia um pedaço da carne de panela, estendia outro para o cãozinho. O arroz com feijão (nosso “prato de resistência” nacional) e mesmo a boa mandioca frita (carboidrato da mais pura e legítima herança indígena) não faziam muito sucesso. Eles queriam mesmo, precisavam é mais correto dizer, da força da proteína. Tinham trabalhado a manhã toda e entrariam na lida pela tarde afora.

Vidente compartilha lições de força e filosofia
Vidente compartilha lições de força e filosofia
Foto: iStock

Tranquilos, relaxados, o olhar de ambos era da maior doçura e serenidade: nenhum vestígio de pobreza, sofrimento, humilhação, miséria, desespero, indigência, dor ou qualquer traço negativo. Como algumas outras vezes, me aproximei. Usando o pretexto de pagar o café que arremataria a refeição, queria mesmo trocar algumas sábias palavras com aquele sábio homem.

Seu Augusto (nome acertado) era veemente, tinha clareza e me afirmava ser possível “domesticar e amansar o mal”. Numa de nossas trocas humanas, repartiu comigo essa compreensão grandiosa dos desafios que precisamos aprender a enfrentar: “Dona Marina, a senhora veja, as pessoas se atormentam mais com a ideia que têm das coisas do que com as coisas em si. Quem tem espírito forte, não se abala”.

“Como assim?”, indaguei um pouco confusa diante de tanta densidade espalhada ali na porta da padaria. “É simples, Dona Marina, está em nosso poder impedir que o mal nos domine, nos derrube. A pessoa de espírito forte compreende que o destino trás o acidente, mas seremos nós que determinaremos a força e a qualidade dos seus efeitos”.

“Você quer dizer, Augusto, que tudo depende da forma como encaramos as coisas?”, perguntei para estimular mais diálogo. “Isso. Isso mesmo, Dona Marina. Em grande parte e, na maioria das vezes, nós somos responsáveis pela aparência e pela consequência da vida. É a nossa força espiritual que dá autoridade para estarmos acima dos nossos maiores inimigos. Por falta dela, é comum produzirmos terríveis fantasias, a pulga vira um tigre, uma garoa de nada que vira o dilúvio”.

“Puxa, Augusto, que pensamento forte e desafiador. És um filósofo, heim”, comentei. Ele, erguendo-se para o café, pegando o dinheiro das minhas mãos: “Ô, que isso Dona Marina, carroceiro sim, mas filósofo eu não mereço. É muito peso de destino, até para as minhas teorias”. Gargalhamos.

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.

Fonte: Especial para Terra
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