Vidente divide lições metafóricas de seu mestre espiritual
Todo ano, na mesma data, sinto saudades. Mestre deve ser também para isso, para dele se sentir falta. Das tantas sábias lições, que tanto contribuíram para o meu crescimento, lembrei-me dessa vez, especialmente, daquela na qual você separava os turistas dos peregrinos.
Começamos pelo turista. Ele apenas segue o itinerário de muitos. Quer ver o que se espera que se veja, as mais belas obras-primas. Mantém pouco contato com a população local, com o entorno humano. Segue em algum guia as recomendações do que fazer e como fazer.
Repetem-se os museus, galerias, igrejas, palácios, monumentos, prédios históricos, objetos e paisagens. Sempre os mesmos exemplos, as mesmas rotas, os mesmos restaurantes. Nada de explorar, sair da zona de conforto, aventurar pelo inaudito. Nega o instinto e a independência. Conhece antes da partida o que visitar, em que ordem, em quanto tempo.
O peregrino, ao contrário, entende que a viagem é capaz de mudar quem somos, transformar a vida, oferecer ritual de passagem que expande a experiência e a imaginação. Para ele a própria movimentação já é o destino. No seu entendimento a viagem é interior, não exterior – aprendizagem de si, espiritualização.
Seu ritmo é outro, mais livre: o da contemplação, do deleite, do perambular sem mapa em busca do genuíno, das sensações de união, das fontes ou raízes. Quando se perde, surge a melhor das oportunidades para se encontrar. Sua esperança se espalha nas agradáveis descobertas que o acaso oferece.
Hoje, mestre, passados tantos anos desde nossas agradáveis conversas, acho que entendo melhor a força-metáfora dessa lição (e de tantas outras). Ela veio, através de décadas, me abrindo os olhos e a mente, desvirando as incertezas em certezas, aliviando o dia a dia.
Mais uma vez e de novo, mestre, obrigada por tudo! Que em tua homenagem eu possa trilhar a legitimidade da peregrinação, desviando do palmilhado roteiro – batido, convencional, repetitivo e empobrecedor – do turismo.
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