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Vidente homenageia mães: 'os sentidos encontram sentidos'

12 mai 2013 - 11h26
(atualizado às 11h26)
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Foto: Getty Images

Ela é padeira. Seu pão, vida. A farinha que usa é amor, água e carinho, o sal é generosidade, o fermento é esperança. Para boa a massa ficar, muita dedicação. Necessário empenho: abrir, sovar. Necessário repetir: abrir, sovar. Repetir tantas vezes: abrir, sovar. 

Seu trabalho – mais para missão – não tem chuva ou sol, tarde ou cedo, noite ou dia, hora de começar ou terminar, domingo ou feriado, descanso ou folga. Ela o faz em envolvimento de corpo e alma. Entrega, mergulho, doação. Inteira, exclusiva, total. 

Mesmo pesado, implacável, faz para ela as coisas serem verdadeiras e boas: as cores ganham colorido, os gostos ficam gostosos, os sentidos encontram sentidos, os significados florescem significativos.

Desde o princípio ela sabia que tudo seria por bastante tempo. Ela compreendia que tal alongamento apagaria muitas das pegadas na areia da praia: sopradas pelas brisas, lavadas pelas ondas. Todavia, para sua fortaleza, ela também compreendeu que felizmente nem tudo seria impermanência, nem tudo seria varrido. Sua memória reteve os retalhos mais importantes: pezinho de sapato, primeiro chumaço de cabelinho cortado, dente de leite.

Depois seu museu pessoal de lembranças íntimas foi se diversificando, abrindo outras salas de exposição: bonequinho, bonequinha, panelinha, pipa, peão, ioiô; bola de gude, vôlei, futebol; rabiscos, desenhos, exercícios na cartilha, prova de boa nota. A coleção se estendeu, novidades foram incorporadas: desodorante, batom, lâmina de barbear, sutiã (famoso, “a gente nunca esquece”).

Quando se deu conta, os ponteiros do relógio dela estavam enlouquecidos, numa espiral vertiginosa, acelerada. Decidiu dar aquela olhada, só para ter segurança, e surpresa descobriu que o pão, tão rápido, já ia bem adiantado: crescido, corado, dourado de forno. Tempo implacável. Ela não imaginava que passaria assim tão rápido, escoando como água entre os dedos, mais rápido do que podia ou gostaria de conceber.

As descobertas encavaladas, as incessantes necessidades de acompanhar os desenvolvimentos, os corriqueiros desafios de organizar as coisas, tudo isso fez com que nossa padeira precisasse também um pouco da arte e do talento da jardineira, da equilibrista, da maratonista, da psicóloga, da anja de guarda e de tantos outros dons que despertam profundo respeito, admiração e carinho.

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.

Fonte: Terra
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