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Vidente mostra que relações inesperadas estão em toda parte

Até em uma tarefa corriqueira, como a troca de um pneu, é possível começar uma nova história

3 mai 2015 - 10h25
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Vidente demonstra como até nos atos cotidianos podemos fazer novas conexões
Vidente demonstra como até nos atos cotidianos podemos fazer novas conexões
Foto: iStock

O inesperado está em toda parte, todos sabem. O mundo gira, todos sabem. A roda roda, todos sabem... mas nem sempre.

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O pneu no chão. Ela já ia sacando o celular da bolsa na expectativa de chamar o “seguro”. Ele se aproximou e olhou a coisa toda. “Pode deixar comigo. Faz dez anos que não troco um desses, mas acho que ainda consigo", disse. "É?", devolveu ela, um pouso ansiosa. 

E ele, vendendo segurança. “Em 15 minutos você está partindo”. Era uma sexta-feira de trânsito bravo, cinco da tarde, o caminhãozinho do socorro demoraria uma eternidade para chegar. Valia a pena arriscar.

Ela estendeu a chave e ele começou o trabalho. Do carro, moderno modernoso, ele não entendia nada. Precisa abrir o porta-malas. Procura a fechadura. Um pouco encabulado. “Está escondida aqui em uma dessas letrinhas na tampa?."

Ela, também um pouco desajeitada com a situação toda. “Não. Não precisa usar a chave não. É só apertar o botão”. Clic. Coisa automática. Foi um difícil começo. Prenúncio do que viria.

Esvaziam o porta-malas. Bolsas, sacolas, um carrinho de brinquedo de criança. “Já está tudo pronto para o final de semana. Vou viajar com a minha filha, uma garotinha de dois anos."

Ele fala do dele, já um moço. Começa o drama de encontrar a chave de roda e, pasmo geral, o estepe – que, informados pelo manual, estava embaixo do carro. “Sou de uma época em que o estepe ficava em um buraco aqui”, disse, rindo.

A coisa se alonga. Ele até que estava bem de braço, coração, pulmão. Verdade que um pouco desatualizado das últimas mumunhas no quesito troca de pneu. Sobe o macaco. A luta contra a calota. Demora perceber que cada parafuso da roda é protegido por uma capinha individual, imitando metal niquelado. Se não tirar cada uma delas, a chave de roda não agarra o parafuso. “O engenheiro que bolou isso era perverso, queria enlouquecer um”, disse ela, divertida.

Fazia bastante calor na garagem. Algum suor. Alguma sujeira nas mãos. Em 30 minutos – razoável naquelas circunstâncias – o carro estava outra vez calçadinho, pronto. Tinham conversado e rido muito. Ela falou, desabafando, da separação recente. A história era muito parecida com a que ele tinha vivido 15 anos antes. O ex-marido dela e a ex-mulher dele eram iguais.

Ela, observando como ele era bem-humorado, lembrou da última vez naquela situação: o futuro ex-marido tinha trocado o pneu com enorme má-vontade. Ele recordou que tinha vivido coisa parecida, a futura ex-mulher uma pilha, irritada porque ele não conseguia trocar o maldito pneu furado mais rápido.

Ela agradeceu e estendeu um cartão. “Sou advogada”, disse. Ele: “Ótimo. Se eu precisar dos teus serviços, você abate a caixinha por essa troca de pneu dos teus honorários."

Ela, ligando o carro aos risos. “Você é boa praça, não vai precisar nunca de um advogado. Para não perder seu merecido dinheirinho, me liga e, ao invés da caixinha, te pago a famosa cervejinha. Assim podemos alongar a conversa que foi extremamente interessante."  

 Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui .

Fonte: Especial para Terra
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