Vidente relembra experiência em UTI: "sempre com Deus"
Fui vê-la na UTI. Ali estava minha amiga tão querida, doente. Ufa, que lugar! Território de transição: uns voltarão à vida diária, outros se preparando para longa jornada espiritual, grande passagem.
Na porta do hospital, metros e metros distante do leito ocupado por ela, antes de tantos longos corredores brancos e amplos elevadores prateados, a flecha diamantada da saudade, traiçoeira, espetou-me o coração. Minha sensibilidade entendeu a mensagem: inquestionável, derradeira.
Avancei, passo a passo, cruzando portas e balcões, bebedouros e carrinhos de todo tipo. Na mente um único pensamento, lembrança de uma expressão que ela repetia com frequência: “Sempre com Deus”. Finalmente, depois de algum ziguezaguear, cheguei. Identifiquei-me, entrei.
A luminosidade, os sons, os cheiros, os apetrechos, as posturas, os movimentos: tudo ali tinha uma densidade pesada, viscosa. A enfermeira, indagada, apontou, estendendo o indicador. Meus olhos finalmente localizaram. Deitada, plácida, encontrei quem eu tinha ido visitar.
Lá estava ela. Branquinha, pequena, educada, quieta, reservada, digna. Dei alguns passos, tomei cuidado com fios e tubos. Acerquei-me, agarrei com ambas as mãos a proteção lateral da cama, cheia de luzes e botões.
Assim que meus dez dedos se fecharam em torno daquele poroso plástico cor de creme, ela abriu os olhos e levantou a cabeça. Ato contínuo eu fechei os meus e escutei aquela voz doce: “Oh, Marina, que bom que você está aqui”.
Sobre as minhas mãos ela pousou a dela. Fez-se curto silêncio. Após respirar com dificuldade ela completou: “Conto com tua sabedoria para confortar a todos. Você vai precisar acolher tanta gente: filhos, netos, genros, noras e até bisnetos; amigos, colegas, companheiros de travessia. Transmita-lhes meu amor e meu desejo de paz, que também – claro! – estendo a você”.
Abri os olhos sem poder segurar a lágrima que pingou na fronha. Sorrimos uma para a outra. Ela completou: “Quero te confidenciar algo. Acho que vou bem. Cumpri até o final. Me libertei bastante. Acredito que estarei numa condição melhor na próxima etapa”.
Ela fechou os olhos. Eu disse: “Certamente. Seguro. Como você costuma dizer, ‘sempre com Deus’”. Nossas mãos se separaram. Inclinei-me. Trocamos um beijo. Retomei o caminho inverso ao que fizera para vir. A cada passo agradecia pela experiência maravilhosa (mais uma entre tantas) que minha amiga tinha me proporcionado. Que exemplo. Que força. Vai bem amiga... “Sempre com Deus”.
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