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Vocação: encontro do nosso ser com o que ele é de verdade

25 jul 2017 - 09h00
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Ele queria ser pianista. Tinha gosto desde bem pequeno. As mãos eram de uma elegância feminina, dedos longos, movimentos suaves. A família não aceitou. O pai, convicto de fazer o melhor, foi impositivo ao negar. Precisou, forçado, seguir as exigências: estudou administração de empresas e, logo formado, com contatos da família, encontrou trabalho numa companhia de grande porte, poderosa.

Foto: Activedia / iStock

Quando nos encontramos, ele, com expressão devastada, disse: “meu espírito está surrado. Trago cicatrizes colecionadas ao longo dos cinco anos macabros que enfrentei todos os dias das oito às dezessete horas”.

Desajustado naquele escritório grande como um transatlântico, explicou-me, não conseguia aprumar, investir corretamente a energia e o tempo que era ali exigido. Sob pressão, sua consciência flutuava, voava longe.

Ele dizia que trabalhava para viver. Os colegas, condenavam, iam além, para eles trabalhar era viver. O passar do tempo apenas piorava o desajuste: não acertava a mão, viu o relacionamento com os colegas degradar, não aceitava a dinâmica muito artificial, sarcástica como elo a classificava.

O pior, completava, era que todos tinham um nome-senha, tratamento carinhoso. Geralmente um diminutivo simbólico – Dó, Fê, Pá, Ân. Ele, fora da patota, era sempre chamado pelo nome completo, não entrando na comunidade.

Tudo ali começou a ganhar ares terríveis. Não conseguia desfrutar de um momento de tranquilidade, incomodava-se com as reuniões e encontros da equipe. Para terminar, explicou, precisava suportar a sede de promoção que arrasava a todos: desejos de poder, cobiça, ódio e raiva.

Pois então, como é difícil estar assim tão desajustado, desamparado, né? Uma violência para o espírito do pianista esse utilitarismo. Sua vida era poesia, não a prática. Percebi ali o perigo de se calar uma vocação, soterrar uma paixão de vida inteira. O pai, com boa intenção, tinha errado feio.

Como premissa de vida devemos eleger o que a nossa vocação indica. Quem quer pilotar avião deve batalhar para isso. Quem quer ser comediante idem. Tornar-se médico, advogado, engenheiro – abraçar qualquer dessas consagradas carreiras -, por imposição, é desastroso.

O melhor é dizer não, correr os riscos e buscar ser simplesmente feliz. A boa notícia é que nunca é tarde para sermos que devemos ser. Meu cliente hoje, após longa orientação, está equilibrado e sorridente.

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.

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