Entenda os danos mentais a quem tem fotos íntimas divulgadas
Mulheres são o público mais afetado pelos crimes de pornografia de vingança
Polêmica recente
Nos últimos dias uma denúncia feita por uma mulher brasileira acusa o jogador de futebol Neymar. Jr de violência sexual. O caso está em investigação e segue sob comando da Justiça. No entanto, como forma de se defender, o atleta publicou um vídeo em seu Instagram no qual explica que a relação que aconteceu entre os dois foi consensual. E como forma de justificar sua fala, Neymar divulgou prints de conversas entre ele e a moça. O conteúdo mostra imagens da mulher nua, com o rosto e regiões íntimas borradas.
De acordo com Raquel Baldo, psicóloga, psicanalista e Especialista Minha Vida, quando essas fotos são vazadas o que acontece é um impacto na estrutura emocional da pessoa, na linha da humilhação.
Segundo a psicóloga, atitudes como esta geram impacto negativo principalmente porque causa uma desapropriação do corpo da mulher, já que ela deixa de ter controle de onde aquela imagem chegará.
Cultura do estupro
Raquel explica que essa prática é ligada à cultura do estupro, já que parte da premissa que o corpo da mulher não pertence a ela, mas sim aos desejos alheios. "Independentemente se há ou não contato físico, a sensação é a mesma de um abuso sexual. É um abuso psicológico que deixa claro que os direitos sobre esse corpo não são dela", aprofunda ela.
Em cada pessoa, o amadurecimento ocorre de uma forma. Mas o dano desse tipo de abuso para os adolescentes pode aparecer de forma mais intensa, devido à falta de vivência. Raquel afirma que, nessas pessoas mais jovens, os impactos podem ser mais crônicos.
Vivemos em uma sociedade de muros invisíveis e informação à solta. Se antigamente para as pessoas saberem o que acontecia em nossa vida, era necessário um encontro pessoal, um telefonema e até um telegrama, atualmente é possível ter acesso a diferentes informações por meio das redes sociais. Não há problema nisso, uma vez que, na maioria dos casos, somos nós mesmos que escolhemos o que e para quem gostaríamos de expor nossa vida.
No entanto, assim como o compartilhamento de momentos pode ajudar a diminuir distâncias, também é possível haver golpes e ações má intencionadas, que podem expôr pessoas a situações constrangedoras, humilhantes e que causam danos, físicos e emocionais, irreversíveis.
A ascensão da tecnologia e redes sociais possibilita que as pessoas filmes, fotografem e também compartilhem momentos de intimidade com parceiros (as) afetivos, como imagens de nudez, sedução ou qualquer outra atitude que instigue o prazer sexual. Esse tipo de prática também pode ser conhecida como enviar nudes.
Tirar nudes não é errado e não deve ser motivo de vergonha. No entanto, existe uma prática criminosa que pode expôr a intimidade de pessoas. Esse tipo de prática consiste em ter as fotos vazadas pelas pessoas a quem as fotos foram enviadas, por exemplo, por vingança ou ter as fotos ou vídeos "roubados" de onde estão salvas.
Quando uma pessoa tem suas fotos divulgadas por um ex-parceiro (a) ou conhecidos configura-se um caso de revenge porn (vingança pornô em tradução livre. De acordo com a organização Safeline, que atua no segmento de segurança da internet, no Reino Unido, os casos de reveng porn aumentaram consideravelmente entre os anos de 2015 e 2016, à medida que os celulares se tornaram mais funcionais.
De acordo com a ONG Safernet, 81% das vítimas de pornografia de vingança são mulheres. O Dossiê Violência de Gênero na Internet, elaborado pela Agência Patrícia Galvão, explica que os ataques que acontecem na internet não estão desvencilhados no mundo real, E estão atreladas ao desrespeito em relação à mulher e ao que seria um "comportamento feminino adequado".
Em depoimento dito no Fórum Fale sem Medo, 2014, a jornalista Rose Leonel, fundadora da ONG Marias da Internet explica que quando uma mulher é vítima de revenge porn ela sofre três dores: a da traição da pessoa que compartilhou o conteúdo, a vergonha da punição e a dor da punição social. Além disso, ela explica que as vítimas desse tipo de crime são responsabilizadas pela maioria das pessoas, enquanto o agressor ainda é poupado pela sociedade.
Ao tentar se proteger das acusações Neymar divulgou imagens íntimas da mulher. Isso fez que com ele passasse a ser investigado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática da Polícia Civil. O que acontece é que esse tipo de vazamento de imagens e vídeos é crime e infringe o artigo 218-C do Código Penal. A legislação criminaliza o ato de oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar, ou divulgar, por qualquer meio, inclusive por meio de comunicação em massa ou sistema de informática, ou telemática, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia.
Em sua participação no Fórum Fale sem Medo (2014), o promotor de Justiça Mario Higuchi, titular da Coordenadoria de Combates aos Crimes Cibernéticos do Ministério Público na época disse que em situações de pornografia de vingança a honra da vítima é atingida. Além disso, muitas mulheres têm sua saúde mental arrasada. Também é possível considerar a questão da lesão corporal, já que as vítimas acabam sofrendo de problemas psíquicos.