SPFW: jovens talentos inovam com látex, sacolas e plástico
A 3ª edição do Projeto Estufa, que busca discutir o futuro-atual da moda, por meio de palestras e talk-shows, além de abrir espaço para jovens estilistas, terminou nesta quinta-feira (18) com as apresentações das marcas Aluf e Lucas Leão. Desde terça (15), desfilaram Korshi, Ão, Victor Hugo Mattos e Mipinta. Com estilos e propostas diferentes, cada um traz o novo, seja em uso de materiais e em propostas. Claro que algumas tendências são revisitadas nos looks de passarela, sempre com um olhar aqui e ali diferenciado.
O SPFW, que ano que vem completa 25 anos, faz uma de suas edições mais enxutas, com 26 desfiles, sendo seis desses novos estilistas, e sem alguns nomes fortes, como Ronaldo Fraga, Amir Slama, além de outros que desceram do bonde há algumas temporadas. Num momento como este, é mais do que inspirador ver esses jovens mostrando moda com inspiração e técnica, mesmo sem fazer parte do mainstream fashion brasileiro (se é que isso existe).
Nos seis desfiles, várias boas ideias. Confira:
Korshi
A grife levou para a passarela uma seleção de looks criados por Pedro Korshi, que se traduz em roupas multiuso. Trata-se de macacões que viram vestidos, casacos, capas. Há casacos que têm até nove funções. Tira-se uma manga, uma gola, a parte baixo e assim vai. Em época de moda consciente, um ótima iniciativa, que já nasceu junto com a marca.
Ão
A grife que tem nome superlativo (Ão) trabalhou com látex para fazer uma analogia à pele, em modelagens amplas. Em colaboração com a artista Raphaela Melsohn, as peças vinham como uma extensão do corpo. Isso porque a diretora criativa Marina Dalgalarrondo quis mostrar uma distorção da silhueta, a partir da modificação dos corpo humano. Bodybuilders, procedimentos cirúrgicos e corpos trans apareciam na passarela, com as modelos ostentando sorrisos nervosos e congelados.
O efeito do látex deixava as peças como que líquidas nos corpos e cabelos untados com gel. Para dar um contraponto, tecidos franzidos com lástex, elásticos colocados em espaços pequenos, além de babados e modelos fora dos padrões estabelecidos pelas passarelas.
Victor Hugo Mattos
Victor Hugo Mattos levou para seu terceiro desfile dentro do Projeto Estufa uma coleção mais limpa que a anterior, mas sem deixar de ser barroca. Penduricalhos como pingente de acrílicos, vidros, pérolas, metais e cristais enfeitavam peças sensuais de crochê e outras em alfaiataria, como paletós, calças e trench-coats. O trabalho manual, como o crochê e o macramê, tem sido muito valorizado nas apresentações.
Mipinta
A grife Mipinta, que também gosta de trabalhar com material reciclado, pensou em meninos que voltam da balada, enquanto todo mundo vai pro trabalho. Eles vêm suados e com looks feitos até com panfletos grudados no tecido, e com sacolas de náilon.
O brilho não podia faltar nessa ideia, assim coletes sobrepostos e brincos confeccionados com strass, por Eduardo Caires, traziam o glamour pós-balada ainda intocado nos looks. Alguns ainda vinham com grafitados e com duas calças costuradas uma sobre as outras. As sacolas de náilon, da Sacola Tropical - projeto de geração de trabalho e renda do Instituto Rampa, com moradores de comunidades de São Paulo -, se transformavam em malas, bolsas e até jaquetas oversized. "Quando as sacolas chegaram, para serem distribuídas como brinde, resolvi montar essas peças", disse Pedro, lembrando que isso foi feito um dia antes do desfile.
Aluf
A marca Aluf, de Ana Luisa Fernandes, trouxe silhuetas de alfaiataria em matérias que misturam o linho e a poliamida (natural com sintético), em peças com silhuetas que remetem a balões, com ênfase nos quadris, nos ombros e em roletês grandes entre o corpo e a saia baixa de vestidos.
O upycicling veio representado por fibras recicladas, que formavam xadrez e pelo plástico reutilizado a partir de sobras do ateliê da estilista e de doações de parceiros. Viravam capas, mangas, babados.
Lucas Leão
As peças multifuncionais e utilitárias também fizeram parte do desfile que fechou o Projeto Estufa. Jaquetas, coletes, calças vinham em tamanho oversized, partindo do bege, passando por azuis até chegar a explosão de cores, em estampas digitais e em looks neon. O futuro de agora proposto pelo projeto veio por meio de roupas criadas em realidade aumentada, com desenvolvimento virtual das peças. Novos ares, novas modas.