SPFW: Moda vegana e manifesto ecológico guiam estreantes

Por: Rosângela Espinossi

6 nov 2020 - 19h41

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Duas marcas estreantes na edição em que o SPFW comemora 25 anos de existência levaram reflexões ecológicas e totalmente atuais ao evento que é 100% digital, por conta da pandemia. São elas a Misci, de Airon Martin, e Renata Buzzo. A primeira mostrou suas peças secas, sem excessos, com cortes de alfaiataria numa praia do Estado do Rio que tem sido ano a ano destruída por conta do avanço do mar. Já Renata trouxe para o evento o conceito do slow fashion, com suasroupas feitas totalmente de forma vegana e com lixo zero.

Renata Buzzo (Foto: Divulgação)
Foto: Elas no Tapete Vermelho

Aliás, a consciência de se produzir uma moda mais sustentável é uma das tendências que se fortaleceu durante a pandemia e promete marcar os próximos passos fashion, com procedimentos menos poluentes e com a consciência de se reciclar peças antigas e de utilizar sobras para confeccionar novas roupas.

É esse o lema da estilista Renata Buzzo, 34 anos, vegana na vida e na sua marca. Ela também faz poemas e, um deles, guiou a coleção "Estudos Melancólicos". "Faço desfiles. Faço poemas. Me digo curada. Minto. (…) Falo aqui do meu caminhar, do meu medo de prosseguir, do meu medo do que está por vir. Tenho medo dos tempos, das pestes, do ar, de mim", diz um trecho do poema, escrito em fevereiro, antes da pandemia desembarcar no Brasil.

Com o poema como legenda, o filme mostrava duas modelos caminhando em meio a uma estrada de terra e na vegetação em volta, com blusas largas, calças confortáves ou vestidos, soltos ,de comprimento que podia chegar ao chão ou não, em cores que vão do off-white, lavanda, verde-menta (tendência), roxo, rosa, marrom verde-bandeira e preto.

Os retalhos servem para fazer sobreposições fluidas e enfeites como babados, drapeados, tiras soltas e aplicações que dão volume e movimento a cada um dos looks. Uma moda sem pressa, mas com muito propósito.

Assista ao vídeo de Renata Buzzo aqui

Misci

Um manifesto político-ecológico foi o mote da apresentação da estreante Misci, de Airon Martin, que trouxe roupas secas, com formas arquitetônicas, criadas a partir de peças masculinas, como um vestido feito a partir do blazer, ou outros retos, sem excessos. Todas as peças foram mostradas por apenas uma modelo de ascendência afroindígena, que passeava em locações da região de Atafona, São João da Barra, localizado no litoral do estado do Rio de Janeiro.

O local é conhecido estar sofrendo um desastre ambiental no qual o mar avança cada vez mais em direção a construções costeiras, fazendo com que a cidade perca força e vida até chegar no ponto em que é completamente destruída. A prefeitura calcula a perda de 3 metros por ano e que nos últimos 50 anos, cerca de 500 casas já foram destruídas.

Uma das cenas do vídeo mostra a Bandeira Nacional pintada numa laje destruída e a narração vai desde noticiários sobre o aquecimento da Terra a textos e música interpretada pela cantora Josyara. O coleção chamada "Brasil Impúbere" faz uma metáfora entre a juventude o amadurecimento do país. Nas roupas, tudo seco, em tecidos pesados ou mais leves, seja nos vestidos, nas bermudas, túnicas e terninhos em que a arquitetura da roupa aposta num minimalismo necessário ao atual momento.