Gripe suína faz pessoas evitarem beijos e abraços no trabalho
Rosana Ferreira
Assim como com a Aids, nos anos 1980, que fez com que as formas de se relacionar sexualmente começassem a mudar para se tornar mais seguras, a chegada do vírus Influenza H1N1, conhecido por gripe suína, aponta sinais de alterações nas relações sociais e, principalmente, no quesito etiqueta profissional. Sim, determinadas regras estão mudando. Se antes cumprimentar com abraço e beijo colegas ou clientes próximos era comum, agora um aperto de mão, no máximo, está de bom tamanho. E segundo especialistas, tais atitudes em épocas de pandemia são bem-vindas.
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O advogado paulista Renato Valença conta que no escritório em que trabalha isso é nítido. "Apesar de não ser oficial, percebemos que as pessoas procuram evitar abraços e beijos. Elas estão mais distantes fisicamente", disse. Ele mesmo passou a cumprimentar somente com um aperto de mão, principalmente porque atua na área internacional, atendendo estrangeiros ou pessoas que viajam muito. "Ninguém fala sobre o assunto, mas todos aceitam esse novo tipo de relação." Além disso, os funcionários passaram a ter em suas salas álcool em gel para higienizar as mãos.
Consultores de etiqueta dizem que as regras existem para facilitar o convívio e são pensadas para o bem comum. Já as particularidades devem ser resolvidas com bom senso e parece que o momento exige exatamente essa atitude, mesmo tendo alguns exemplos exagerados já divulgados pela mídia, como pessoas que agora só apertam o botão do elevador com os cotovelos para não contaminar as mãos.
Excentricidades à parte, a questão é que o toque, por exemplo, sempre foi um assunto delicado nas culturas. "No Brasil, porém, a sociedade é voltada para o toque, por isso é preciso tomar uma atitude ostensiva no momento de uma pandemia", disse Maria Aparecida Araújo, consultora de comportamento social, profissional e internacional, do Rio de Janeiro. Isso significa dizer que pode sim assumir sua posição: de que não quer dar um beijo ou um abraço. "Mas faça isso de modo agradável, com um sorriso. Ele sempre atenua a postura mais distanciada."
A consultora sugere um excelente cumprimento - sem toque - que pode ser uma boa saída em qualquer situação: a reverência (uma leve inclinação de cabeça). "E quando seguida de um sorriso e olhos nos olhos, fica muito educado e gentil", disse. Outra recomendação da especialista é não se aproximar demais das pessoas para conversar. O ideal, segundo ela, é manter a distância pessoal: 1,20 m em torno do corpo.
No caso de espirros e tosses, é preciso proteger o rosto com um lenço de papel descartável, jogá-lo fora imediatamente e lavar as mãos. "Quem espirra ou tosse é o responsável por tomar os cuidados para não transmitir doenças", disse. E uma das atitudes mais civilizadas é prezar pela higiene das mãos, um dos principais meios de transmissão da doença.
Empresas
"As informações que recebemos pela mídia fazem com que todos tenham mais cuidados individuais. E as empresas, com seus programas de qualidade de vida, já estão trabalhando nesse sentido também, apesar de não haver uma imposição oficial", observa Ralph Arcanjo Chelotti, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).
É o caso da Burti, especializada em serviços de impressão, que enviou em maio passado comunicados a todos os funcionários, além de fixar orientações sobre a nova gripe nos quadros de avisos, apesar de não ter nenhum caso de gripe suína na empresa. Esta semana, também providenciou álcool em gel em todos os banheiros da empresa, com um aviso sobre o modo de usar: lave as mãos com água e sabão; seque-as totalmente com papel toalha; aplique uma pequena porção de álcool gel numa das mãos; espalhe suavemente nas mãos até secar.
Eventos
O cuidado também chegou aos eventos, como se viu na feira Brazil Promotion, realizada entre 4 e 6 de agosto, no Transamérica Expo Center, em São Paulo. "Todos estão preocupados com a proliferação da gripe suína e, num evento com grande número de pessoas, essa preocupação redobra", disse Auli De Vitto, diretor da Forma Editora, organizadora do evento, e vice-presidente da Ampro (Associação de Marketing Promocional).
Ele conta que por essa razão foram afixados avisos do Ministério da Saúde sobre a nova gripe em vários pontos da feira, onde também havia à disposição dos visitantes e expositores garrafas de álcool em gel e papel descartável para higienização. "Só não conseguimos evitar beijos, abraços e apertos de mão", disse. Segundo ele, no começo da feira o público estranhou, mas depois aderiu. "Está havendo uma consciência."
E para aproveitar a feira especializada em marketing promocional, a empresa expositora Fiocard, fabricante do álcool Easygel, distribuiu durante o evento um frasco portátil do produto que pode ser colocado na cintura. Quando precisar do álcool, basta apertar o dispositivo na palma da mão e pronto.