Método que analisa famílias leva soluções às empresas
Michelle Achkar
No mundo empresarial, principalmente em tempos de crise, os mestres de marcas, gestão de pessoas e administração são seguidos como oráculos. E no Brasil, cresce a procura por um tipo de conhecimento no qual o guru, no caso, é você mesmo.
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Trata-se da Constelação Empresarial, um método de análise derivado da Constelação Familiar, criado pelo alemão Bert Hellinger na década de 1970. Missionário na África na época, Hellinger identificou que questões e problemas familiares se repetiam em gerações diferentes. Esse foi o ponto de partida para a elaboração da sua teoria de que cada núcleo familiar encerra um sistema e que qualquer alteração nesse equilíbrio cria emaranhamentos que terão consequências no futuro.
O método de investigação tem embasamentos em estudos da biologia, na teoria da ressonância mórfica de Rupert Sheldrake, que diz que campos morfogenéticos formam a memória coletiva, a qual recorre cada membro da espécie e para a qual cada um deles contribui.
Para que a Constelação aconteça, o campo morfogenético (fonte das informações) é ativado com uma técnica já conhecida da psicologia, o psicodrama, criada por Jacob Levy Moreno. Pessoas, geralmente sem nenhuma relação anterior, assumem os papéis dos envolvidos nos problemas e vão manifestando sensações, pensamentos, vontades, desenvolvendo o tema numa representação viva de dramas ligados a questões amorosas, financeiras, familiares e, agora, empresariais.
Quem leva uma questão a ser investigada apenas assiste ao processo. "O que está implícito, torna-se explícito", afirma Alicio José Gobis, psicoterapeuta que foi o responsável por introduzir a técnica voltada a empresas há cinco no Brasil, com o treinamento do primeiro grupo de profissionais num curso com duração de três anos e que conversou com o Terra sobre o assunto.
O método pode ser aplicado em cenários diversos, desde a investigação do sucesso de um novo negócio, lançamento de uma nova marca até a contratação de novos profissionais.
Terra - Quando a Constelação passou a ser aplicada nas corporações?
Alicio Gobis - Na Europa é aplicada há mais de uma década e está bem divulgada. Foi migrando naturalmente. No Brasil, em 2004, fui convidado pelo Instituto Hellinger a organizar o primeiro grupo oficial de consultores para a área organizacional. Trouxemos consultores que já atuavam na Europa para a formação que durou três anos. Então, oficialmente é praticada no Brasil desde 2007. Há dois meses, o próprio Bert Hellinger esteve no país para a realização de um seminário voltado exclusivamente às constelações empresariais.
Terra - Como é adaptada para as empresas, já que toda a técnica parte do núcleo familiar? Há empresas formadas por membros da mesma família, mas, e se não for esse o caso?
Alicio Gobis - As mesmas leis que regem os sistemas familiares regem as organizações, sejam elas familiares ou não. Bert Hellinger costuma dizer que é consultor das relações e não de empresas. O que geralmente acontece é que aparecem mais informações, não apenas ligadas à questão que se quer investigar, pois muitas têm ligação com a história pessoal. Nesse caso, há duas maneiras de condução: pode-se colocar uma barreira e apenas sinalizar para a pessoa que existe assunto a ser investigado ou abrir também para questões pessoais. É mais comum apenas sinalizar, pois muitos clientes não estão preparados ou não querem discutir assuntos pessoais.
Terra - Quem pode ou deve participar das sessões? Pode-se fazer uma constelação com funcionários das empresas?
Alicio Gobis - De empresas grandes e médias, geralmente participam diretores e presidentes, mas apenas como observadores e não como representantes. Em empresas menores, os donos, sócios e gerentes. Muitas vezes, vem apenas o empresário. Ainda não acho que estejamos preparados para fazer constelações com os funcionários das empresas, o que causaria comentários e não traria muitas contribuições. O que tem acontecido bastante é a empresa contratar uma sessão especial. Ela não precisa se identificar e apenas coloca o problema para um grupo de voluntários ou participantes, que atualmente são pagos para desempenhar a função. Para eles funciona como um laboratório e aprendizado.
Terra - Quando é recomendado que a técnica seja aplicada em empresas?
Alicio Gobis - Pode-se investigar questões ligadas a marcas, produto, conflito entre pessoas na empresa, processo de expansão. No caso de uma empresa que vai criar nova divisão no mercado, pode-se analisar se deve ser lançada com o mesmo nome ou um novo. Parte-se de representantes da empresa atual e vão surgindo outros, correspondentes aos concorrentes, clientes futuros, à nova marca, consumidores. Recentemente fiz uma constelação onde ficou demonstrado que o setor da produção era acompanhado de perto pelo diretor da empresa e que o setor financeiro não tinha força, o que representava um risco ao negócio. É auxiliar também em processo de seleção, como no caso de uma empresa que tinha de decidir que funcionário seria transferido para outra companhia do grupo.
Terra - Quais são os problemas mais comuns apresentados nas sessões?
Alicio Gobis - Conflito entre pessoas e questões ligadas à expansão.
Terra - Algumas empresas apresentam o serviço de coaching sistêmico. O que é isso?
Alicio Gobis - É um novo nome para o que chamamos de assessoria individual e geralmente aborda um campo mais amplo. Pode-se trabalhar com o histórico de formação ou profissional ou investigar qual opção seria melhor no futuro. Já realizei sessão onde analisei a formação de uma pessoa e descobrimos uma relação importante entre a morte de sua mãe na época da faculdade com o desenrolar de sua carreira. Ou pode-se olhar um plano de carreira. Por exemplo, analisar o que tem mais força entre a possibilidade de uma promoção, um mestrado ou uma viagem ao exterior.
Terra - Quais as principais vantagens da Constelação em relação a outros métodos de solução de problemas?
Alicio Gobis - Uma maior segurança para fazer afirmações. Pois mexe com campo de conhecimento que não estava consciente, mas que atua na realidade e que, quando revelado, muda o olhar sobre o problema.
Terra - Em alguns casos, quem "constela" pode ser encaminhado para terapia convencional. E no caso das empresas, como funciona esse pós?
Alicio Gobis - Depois de uma constelação, indicar o que fazer não é correto. A decisão é de quem traz o problema. Pode-se retomar a questão no futuro. Um CEO de uma empresa para a qual presto consultoria reviu uma constelação realizada e gravada há dois anos e saiu do consultório com várias metas traçadas.
Terra - Como está a divulgação da técnica no Brasil? Já é conhecida e aceita?
Alicio Gobis - Quando começamos a organizar o curso de formação em 2003, foi difícil porque quase ninguém tinha ouvido falar em Constelação. Agora, já temos uma associação e diversos profissionais. Tem se expandido fortemente na América Central, Latina, Estados Unidos e África.
Terra - Quais devem ser os aspectos observados para se contratar um profissional ou empresa que aplique a técnica? Que credenciais devem ser exigidas?
Alicio Gobis - Buscar recomendações e referências como fazemos em relação a qualquer profissional liberal.