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Universidade de 600 anos tem primeira presidente mulher

29 mar 2009 - 15h46
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Raymond Bonner

Nomeação de Louise Richardson quebra tradição da Universidade de St Andrews
Nomeação de Louise Richardson quebra tradição da Universidade de St Andrews
Foto: The New York Times

Esta tranqüila cidade do Mar do Norte é o lar do golfe e do clube Royal and Ancient, que estipula as regras do esporte e não admite mulheres como sócios. Por 255 anos desde sua fundação, isso não foi um problema. Tornou-se agora que outra renomada instituição da cidade, a Universidade de Saint Andrews, nomeou Louise Richardson, uma irlandesa-americana, como presidente; seus dois predecessores imediatos foram feitos membros honorários do clube de golfe.

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A controvérsia ganhou evidência e foi notada pela oradora da solenidade de nomeação de Richardson nesta semana. No discurso, a baronesa Shirley Williams lembrou quando, como membro do Parlamento, ela precisou entrar em um clube de Londres pelos dutos de aquecimento para comparecer a uma reunião de um comitê parlamentar que acontecia no local - mesmo sendo ela a presidente do comitê. Por enquanto, Richardson, cuja posse foi acompanhada de grande pompa - o juramento, a oração e a bênção foram em latim -, espera que o assunto desapareça. "Vejo isso como uma distração", disse em entrevista. "Estou aqui para dirigir uma universidade."

Por 600 anos, essa venerável instituição - a terceira universidade mais antiga do mundo anglófono - foi presidida não apenas por homens, mas por homens britânicos e protestantes (após a Reforma, naturalmente). Richardson, nascida na Irlanda, é uma cidadã americana naturalizada e católica.

Mas é o seu sexo que agita a cidade e a universidade. Com seu humor característico, ela destacou em seu discurso que um graduado da universidade, John Knox, havia escrito em 1858 um livro chamado The First Blast of the Trumpet against the Monstrous Regiment of Women (O primeiro toque de trombeta contra o monstruoso regime das mulheres). A seguir, continuou: "Ouvi de várias fontes que havia muita especulação em Saint Andrews sobre o que estaria acontecendo no túmulo de Knox no momento da minha indicação."

A presença de Richardson não vai sacudir apenas os rabugentos tradicionalistas do golfe - todo clube de golfe em Saint Andrews é unissex, três masculinos e dois femininos. Na universidade, apenas três dos 18 dirigentes das escolas são mulheres. No gabinete do diretor, que é como chamam o presidente, Richardson é a única mulher; os cinco vice-diretores, o reitor de estudos de pós-graduação e o oficial financeiro são todos homens.

Richardson disse durante longa entrevista que não queria ficar "marcada como interessada apenas em temas femininos" e rejeita ações afirmativas como forma de trazer mais mulheres para posições de liderança. Mas ela tem consciência de sua posição, afirmando que o topo da universidade precisa refletir a demografia do corpo de estudantes e a sociedade em geral. Segundo um porta-voz da universidade, 57% de seus 7.250 alunos de graduação e pós são mulheres.

"Não acredito que o talento resida predominantemente entre homens, ou entre as classes privilegiadas", disse Richardson. Sobre esta última questão, Saint Andrews tem uma reputação "elitista", e seu plano é expandir para estudantes social e economicamente menos privilegiados.

No campus vitoriano, onde o príncipe William estudou e cerca de 15% são americanos, a missão de Richardson inclui subir o status internacional da universidade, ampliando sua base de alunos e de captação de recursos.

Ela vem de uma distinta carreira em Harvard, onde seu foco acadêmico era o terrorismo. Foi algo que lhe veio naturalmente, tendo crescido na Irlanda durante alguns dos anos de violência sectária mais críticos da Irlanda do Norte. Irmã de seis, ela foi a primeira de sua família a freqüentar a faculdade. Embora tenha sido educada em um escola religiosa, de forma audaciosa e corajosa ela se matriculou na Universidade Trindade Protestante em Dublin, considerada uma das melhores da Europa, trabalhando na biblioteca de dia e servindo coquetéis à noite.

Ela prosseguiu para um doutorado em Harvard, onde começou sua carreira ensinando relações internacionais. Ao observar todos os livros sobre terrorismo em seu gabinete, seus alunos lhe pediram para oferecer uma matéria sobre o assunto. Ela propôs um seminário, limitado a 12 estudantes. Era 1996, cinco anos antes de 11 de setembro tornar o terrorismo tema da moda, mas cerca de 130 estudantes se interessaram. Ela ofereceu então uma matéria regular. "Não há nada parecido com preparar 30 aulas que forçam você a focar seu pensamento", disse.

Em 2006, ela reuniu seus pensamentos no livro What Terrorists Want: Understanding the Enemy, Containing the Threat (O que querem os terroristas: entendendo o inimigo, contendo a ameaça). Em uma crítica no New York Times, Martin Walker chamou o livro de "o manual essencial sobre terrorismo e como enfrentá-lo".

Ele quase não foi publicado. Seu editor queria omitir o capítulo 6, "What Changed and What Did Not After September 11, 2001" (O que mudou e o que não mudou após 11 de setembro de 2001). Ela sustenta que o mundo não mudou no pós-11 de setembro como proclamou o presidente Bush. O que realmente mudou após os atentados foi a reação americana, exagerada, na sua opinião, com o Ato Patriótico e a declaração de uma "guerra ao terror". Ela disse ao editor que devolveria o adiantamento. Ela venceu. "Ela tem uma confiança quieta, mas suprema", disse Andrew Mackenzie, diretor de pesquisa da escola de física e astronomia.

Quando tinha 14 anos, Richardson pensou em entrar nas fileiras do IRA (Exército Republicano Irlandês), grupo guerrilheiro de oposição ao domínio britânico na Irlanda do Norte. Mas o que se sente dela agora é que ela não está procurando liderar uma revolução em Saint Andrews, mas uma evolução acelerada.

No cargo desde 1º de janeiro, ela já faz sucesso entre os estudantes. "Estou realmente impressionada com ela", disse Jessica Siegel, do Novo México, aluna do quarto ano e presidente da Union Debating Society, um grupo estudantil de debates. "Ela é tão acessível. É uma pessoa, ao invés de só essa figura."

No mês passado, Richardson se encontrou com os líderes das sociedades estudantis, uma reunião anual normalmente litigiosa. Ela foi aconselhada por seus assistentes a levar ajudantes para evitar os ataques verbais, mas insistiu em ir sozinha. "Fui e passei duas horas fabulosas com esses estudantes", disse. "Eles estavam engajados, compromissados."

Um dos desafios mais formidáveis de Richardson será levantar recursos. O ensino é gratuito para alunos da Escócia ou de países da União Européia fora da Grã-Bretanha, enquanto estudantes americanos pagam em torno de US$ 16 mil. Mas não há na Grã-Bretanha a tradição de apoio filantrópico ou doações de ex-alunos para universidades.

Richardson disse que fala a doadores potenciais endinheirados: "Se você quer um legado, você quer mais riqueza para especular em derivativos ou investir em educação, em uma instituição que existe há 600 anos?"

Tradição é algo reverenciado em Saint Andrews, onde estudantes às vezes andam pelo campus em mantos vermelhos, usados de forma diferente de acordo com seu ano letivo. "Entendem muito de cerimônia em Saint Andrews", disse Richardson, algo amplamente demonstrado durante sua nomeação, com homens carregando cetros centenários e saudando a chanceler da universidade.

Ela decidiu que queria mais substância, então aconteceram palestras acadêmicas sobre ciência, humanidades e ciências sociais após o juramento formal. Ela convidou acadêmicos americanos renomados, como Stanley Hoffman, historiador de Harvard; Robert Keohane, professor de relações internacionais de Princeton; e Gish Jen, autor e professor de literatura de Brandels.

Os seminários aconteceram no Salão do Parlamento - que tem esse nome porque é onde o Parlamento escocês se reunia durante a praga do século 17 - com lugar apenas para espectadores de pé, sugerindo que Richardson não era a única procurando mais do que cerimônia.

Tradução: Amy Traduções

The New York Times
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