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Feliz o quê? 8 de março segue lembrando que há muita luta para pouca glória

Dia Internacional da Mulher costuma render flores ao mesmo tempo em que se destacam os índices de feminicídio e as novas fontes de misoginia

8 mar 2023 - 14h33
(atualizado às 15h18)
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8 de março é conhecido como o Dia Internacional da Mulher, longe de ser uma comemoração, é uma data política
8 de março é conhecido como o Dia Internacional da Mulher, longe de ser uma comemoração, é uma data política
Foto: Unsplash

Mais um Dia da Mulher é celebrado nesta quarta-feira (8) e as manchetes dos principais jornais dizem muito sobre o status dessa luta.

Na capas dos principais jornais do país, diversas matérias abordam a sub-representatividade feminina nos espaços de poder e a violência a que as mulheres têm sido submetidas dentro e fora da política.

Destaque também para a diferença salarial entre homens e mulheres que, nos últimos dois anos, voltou a subir. A fim de atacar esse índice, o governo Lula deve anunciar hoje um projeto de lei para garantir remuneração igual aos gêneros, de modo a fazer valer o que já é ditado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que a mulher que receber menos poderá ir à Justiça

O recorte seguiu em destaque para discutir por que esse direito, já instituído por diversos dispositivos da legislação brasileira, nunca vigorou em sua plenitude - dados do IBGE apontam que as mulheres ganham, em média, o equivalente a 77,7% do salário dos homens. Em cargos de liderança, esse número cai para 61,9%.

O futuro é feminino?

Mulheres no mundo todo seguem lutando por direitos iguais e dignidade
Mulheres no mundo todo seguem lutando por direitos iguais e dignidade
Foto: Unsplash

Em meio a tantos níveis e tipos de violência, há motivos para comemorar? Não se trata de minimizar a luta histórica e cotidiana de mulheres que nos trouxeram avanços sociais. Mas a realidade segue amarga.

O Atlas da Violência, organizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mostra que o Brasil registrou 50.056 assassinatos de mulheres entre 2009 e 2019. No último ano do levantamento, 66% das vítimas eram negras.

Também com o ano de 2019 como referência, o Ipea aponta que o país tem 822 mil estupros por ano. Os números impactam, mas não surpreendem quem acompanha os registros de violência para além das páginas policiais.

Misoginia: redpill, MGTOW e incels ganham evidência

Só nas últimas semanas, o movimento "redpill" saiu da bolha. Composto por homens ressentidos, esses grupos distorcem o termo utilizado no filme "Matrix" - Neo (Keanu Reeves) tem que escolher entre a blue pill para seguir no mundo da fantasia e a red pill, que vai lhe permitir enxergar a realidade - com a ideia de que as mulheres são hoje privilegiadas pela sociedade.

Segundo esclarecido pela cientista política Bruna Camilo, no podcast "O Assunto", eles defendem que os homens se aproveitem das mulheres, a fim de torná-las submissas como modo de recuperar a virilidade que teriam perdido.

Há ainda outros grupos que ganharam maior evidência nos últimos dias: os incels, que se intitulam celibatários involuntários, atacam e culpam as mulheres por isso, e os MGTOW ou "man going their own way" (algo como "homens seguindo seu próprio caminho", na sigla em português), para quem o feminismo tornou as mulheres perigosas.

De grupos obscuros na internet a cursos, livros, podcasts e cada vez mais mídia - um dos ministros das Relações Exteriores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Ernesto Araújo, se autodeclarava "redpillado" -, eles encontraram amplo espaço para expandir sua misoginia. Em meio a isso, os discursos também transbordam racismo e LGBTfobia.

"Ser mulher em uma sociedade machista é se manter constantemente em luta pela vida e por direitos. O antigo governo desfez políticas essenciais às mulheres e proferiu discursos de ódio e violência, o que legitimou movimentos como os 'redpil'". Mas nós iremos combater. Sabemos que são séculos de retrocesso, tudo que a mulher conseguiu foi com luta, nada nos foi dado", afirma a advogada e deputada federal do Partido dos Trabalhadores (PT), no Rio Grande do Norte ao Terra.

Emprego: a corda estoura para quem quando o assunto é corte?

Muita gente tem ouvido e sentido os layoffs - famosas demissões em massa - nas empresas de tecnologia, e uma consequente redução de salários no setor de tech. 

Segundo a plataforma Layoffs.fyi, 125,6 mil pessoas foram desligadas só em 2023 na indústria tech global; desse total, 45% foram mulheres — lembrando que elas ocupam menos cargos no setor. Aqui no Brasil, a porcentagem em fevereiro deste ano foi de quase 60%. A informação foi divulgada na newsletter do "The Brief". 

Mulheres que atuam no mercado tech têm 65% mais chances de perder o emprego em relação aos colegas homens. Os dados são da plataforma Eightfold AIE.  E isso está atrelado a uma lógica da sociedade patriarcal que enxerga o homem "mais disponível" do que a mulher quando o assunto é foco na carreira - nesse ponto, falamos de maternidade e trabalhadoras casadas.

Vale ressaltar que durante o período pandêmico contratar uma mulher e levantar a bandeira da diversidade de gênero foi algo muito difundido por diversas empresas. Mas o quanto o projeto de equidade é efetivo? Porque na hora da demissão foi justamente quem entrou depois, os não-brancos, a comunidade LGBTQIAP+ e as mulheres que foram demitidas.  

Violência física: como a sociedade protege as mulheres?

Os registros de violência física servem de exemplo de como a sociedade tem sido ineficaz na proteção dos direitos e da vida de meninas e mulheres. Pelo contrário, de 2018 a 2021, cresceram os casos de feminicídio (9,1%) e ameaça (34,6%), como mostram dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 2022, último ano do governo Bolsonaro, o estudo indica que "praticamente todos os indicadores relativos à violência contra mulheres apresentaram crescimento".

Com a promessa de reverter esse cenário, a nova gestão anunciou medidas. Na última terça-feira (7), em pronunciamento nacional, a ministra das Mulheres do governo Lula e ativista pelos direitos humanos, Cida Gonçalves, anunciou a reformulação da Central de Atendimento à Mulher, o 180; a retomada do programa "Mulher Viver sem Violência", com 40 Casas da Mulher Brasileira para atender às vítimas com serviços de saúde, segurança e sociais; e anunciou a distribuição de 270 viaturas para as Patrulhas da Maria da Penha e para as Delegacias Especializadas.

É nisso que a deputada federal Natalia Bonavides (PT-RN) acredita. "Temos 11 ministérios chefiados por mulheres e um integralmente para nós, com Cida Gonçalves como ministra, que luta ao nosso lado. Precisamos de mais políticas públicas de combate à violência e oportunidade de ocupar todos os espaços. Sejam eles na política, nas universidades, no mercado de trabalho, em qualquer lugar", declarou ao Terra, ao destacar os retrocessos, há séculos perpetuados, que precisam ser combatidos.

São medidas que, sozinhas, não mudam a realidade do país, porém, pensadas a partir da perspectiva de gênero, sem negar a estrutura patriarcal que vulnerabiliza as mulheres, compõem um conjunto de ações importantes em prol da equidade e segurança.

Fonte: Redação Terra Você
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