Criando filhos que não mendigam migalhas de amor
Foi a Dra. Filó a responsável pela frase do título da crônica de hoje. O vídeo da palestra da pediatra, numa escola de Belo Horizonte, viralizou e me acompanhou ontem durante todo o trajeto pra casa. Tudo bem, Filomena pode ser chamada de conservadora, de "pregar" em igrejas e escolas, mas quer saber? Me tocou lá no fígado.
O trânsito da Marginal insuportável como sempre, se tornou ainda mais sufocante por conta das palavras da médica. Basicamente, ela associa a estima ou melhor, a falta dela, a tantos problemas emocionais que as crianças vivem hoje. Síndrome do pânico, depressão e doenças psiquiátricas estão roubando muitos filhos do mundo.
Parece trágico, mas imagino o desespero de alguém que já internou um paciente aos 12 por vício em drogas e tratou outro dependente aos 8, em celular. Tudo muito triste e uma realidade que, cá pra nós, a gente tem assistido de camarote. Mas quem sou eu para vir aqui tirar ainda mais o nosso sono porque assim como você, eu quero é solução. E não busco aquelas receitas de revistas femininas de décadas passadas (5 passos para criar um filho perfeito), mas caminhos para sossegar o meu, o seu, o nosso coração e ajudar na tarefa desafiadora que é a maternidade.
Fazer os nossos filhos se sentirem capazes, "dar conta", como dizem na minha terra, pode ser o melhor antídoto para alguns dos males do mundo moderno que oferecem conteúdo sem filtro, acesso às redes sociais que trazem a vida recortada como se fosse inteira, que fazem as crianças acharem que amizade legal é a virtual.
Ser merecedor de amigos verdadeiros, de amores de verdade, ser respeitado, ser tolerante, conseguir dizer não quando tiver vontade, ir contra o que todo mundo faz sem ter medo de não ser aceito pode ser uma luz nesse túnel longo e incerto que tem sido viver no século 21.
Toda vez que digo para as minhas meninas que devem ser confiantes, que são capazes de resolver, desde uma conta de multiplicação até fazer as pazes com uma amiga na sala, estou reforçando a confiança delas e, especialmente, a minha confiança nelas.
Criar filhos valentes, determinados, que não aceitam menos do que merecem, que oferecem o que os outros precisam, que pedem desculpas, que são bem resolvidos é a coisa mais difícil e a mais gratificante que existe. E o mais incrível é que nada disso tem a ver com deixar fazer tudo. Muito disso tem a ver é com impedir, selecionar, acompanhar, dizer milhares de nãos e persistir para que sigam o melhor caminho.
O rio só existe porque tem margem, outra frase da Dra. Filó. A criança só será um adulto inteiro se tiver limite e muito amor.
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