Dá para enxergar um horizonte para os nossos filhos no Brasil?
Jamais me atreveria a opinar sobre o que estamos vivendo. Os acontecimentos dos últimos dias (dos últimos anos, é verdade) são tão complexos, tão cheios de nuances que eu certamente cometeria grandes injustiças. Mas sobre futuro das minhas filhas? Ah, sobre isso eu posso falar (acho).
Aliás, depois que me tornei mãe meu pensamento está sempre lá e nunca aqui. Já estou pensando, por exemplo, no esquema que farei nas férias de julho (elas têm dias livres, eu não), no penteado das meninas para a festa junina (maria chiquinha ou rabo de lado?) e como comemorarei o aniversário delas, em setembro. E olha que nem terminamos maio.
Mas minhas filhas estão vivendo intensamente o agora e não param de se afligir. Mamãe, o que está acontecendo? E se faltar comida aqui em casa? E se a Jai (minha ajudante grávida) não conseguir chegar ao hospital? E se acabar a gasolina do nosso carro? E se?
O se é o que dói. Mesmo com a vida aparentemente voltando ao normal, ainda vejo lojas fechadas, professores paralisados , carros deixados na rua por falta de combustíveis e serviços básicos cancelados por falta de condições.
Mãe adora pensar no futuro dos filhos, refletir sobre o que queremos pra eles. Eu quero que as minhas sejam felizes, que sejam pessoas honestas, que escolham profissões com propósito e encontrem companhias bacanas. Mas desde ontem me vi pensando na falta de tantas possibilidades. E se não tiverem? E quem nunca teve?
Me coloquei no lugar de cada mãe que não consegue imaginar um futuro para os filhos porque nem sabe se chegará ao trabalho, se terá emprego ou comida na mesa, independente de grave e paralisações. Pensei que minha preocupação hoje é de que minhas filhas não consigam ir na ginástica olímpica ou que meu tanque de combustível não me leve ao escritório para uma reunião estratégica, mas e as outras mães e os filhos delas?
Tudo o que nós e nossos filhos temos vivido têm sido um exercício fabuloso de se colocar no lugar do outro, de imaginar outras possibilidades, novos caminhos, de valorizar o que temos e refletir sobre o nosso papel para que o se, um dia, se torne um seja . Para todas as mães e para todos os filhos.
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