Desculpe, não sou a mãe ideal (das redes sociais)
Acabo de fazer um bolo com as meninas. Poderia ter postado uma foto nas redes com a seguinte legenda: #amormaior #amosermae #bolojuntas #carnavaldelicia e por aí vai. Facilmente daria a impressão de que sempre fazemos isso, de que um bolo de chocolate caseiro é algo rotineiro por aqui e que sou a melhor mãe do mundo porque em plena folia troquei aquele bloquinho maravilhoso por um bolo de chocolate com filhas de acompanhamento. Meu post renderia vários elogios, mas no fundo despertaria alguns sentimentos não muito ortodoxos (aqueles que a gente tem, mas nunca jamais confessará) como: nossa, a Michelle é dedicada, hein? Eu nunca fiz isso com os meus flhos, que mãe sou eu? Que bolo lindo! Que bolo estranho. Preciso urgente fazer um bolo também!
Vamos à realidade?
Nunca tinha feito um bolo na minha vida, embora minhas filhas sempre tenham comido deliciosos bolos caseiros (feitos pela minha querida ajudante). Neste carnaval não estou com a menor vontade de pular nem na rua e nem no clube e não interrompi minha caipirinha carnavalesca para dedicar um tempo para as meninas. Sim, interrompi meu estudo para a pós que estou no fim e no gás que decidi dar no meu TCC. E antes de me trancar no escritório orientei filhas e marido que estaria incomunicável, apenas para emergências super urgentes.
Sim, foi uma delícia fazer um bolo com as minhas filhas, algo que estava há tempos adiando por falta de tempo e por falta de dom mesmo. Foi demais estrear na função boleira e ainda por cima treinar a leitura, falar sobre paciência entre tantas coisas que uma receita permite. Sim, rolou estresse em menos de 15 minutos. Além delas provarem tudo (do ovo ao chocolate) uma das meninas emburrou no meio do caminho porque recebeu um puxão de orelha e saiu batendo porta pela casa. Claro, fiquei frustrada porque imaginei que só viveríamos momentos doces como o bolo que escolhi, porque a gente sempre ideliza tudo, enche de expectativas e mesmo conhecendo a vida como ela é, adora se mirar num exemplo que não existe no mundo real (talvez no virtual).
O bolo? Ficou lindo (como você vê na foto com filtro), ficou delicioso, mas solou. Moral da história: se a gente aceitar que a realidade é imperfeita ela será bem menos amarga!
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